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Domingo, 21 de Dezembro de 2008
  
Audiência Pública

Na audiência pública, em São Sepé (RS), não responderam a um agricultor que reclamou que sua plantação, lindeira à Aracruz, está cada dia mais seca.

  
Por Althen Teixeira Filho
  

Dirijo-me ao cidadão sepeense, com a alegria de dirigir-me a amigos. Em mais uma estada nesta acolhedora cidade de belíssima região, participei da “Audiência Pública”, que abordou as lavouras de eucaliptos. Como já estive em outras, sei que, independente do ocorrido, os favoráveis às lavouras dirão que “tudo foi transparente e a comunidade foi esclarecida”. Sempre repetem esta balela, mas perguntaríamos; o que de fato aconteceu? Analisemos. 

Nas falas a Aracruz apresentou-se com o subterfúgio de que; era “brasileira” (mesmo tendo mais de um quarto do seu capital sueco-finlandez); oferecia milhares de empregos (sem citar os demitidos de São Sepé, trabalho temporário e baixa empregabilidade); se preocupava com o meio-ambiente (embora destrua o solo do município arando morro abaixo; utilize venenos em grande quantidade; desfrute a água sem pagar e asfixie dos capões de mata nativa). Disse também que: em seis meses estará recuperada da perda dos bilhões na jogatina da bolsa de valores (arriscaram e perderam dinheiro público que foi emprestado pelo BNDES); não fizeram Estudo de Impacto Ambiental, pois ninguém disse que precisava (os advogados deles não conhecem as Constituição Federal e Estadual); e outras digressões não menos controversas. 

Foi arranjada uma representante da Secretaria Estadual do Meio Ambiente ou da FEPAM (não entendi bem), que era amiga do enviado da Aracruz, pois o tratou com total pessoalidade. Dizia que “ele sabe, faz, desfaz, pode, é a maioral plantando “florestas”, tem licença, tem cuidado”, entre outros excessos. Como representante do Governo do RS, e bem ao estilo do mesmo, chegou ao disparate de assumir que mostrava fotos de “florestas” cedidas pelas empresas, ou seja, certamente deslocou-se de Porto Alegre até São Sepé com recursos públicos (nosso dinheiro) para propagandear fatos e invencionices das empresas. Depois, quando cobrada, disse que exercia cargo de confiança na FEPAM (já fecharam a FEPAM?), mas que era, de fato, funcionária da Emater (afinal, onde está contratada?). E estes dois amigos, que se apresentaram como Engenheiros Florestais, insistiam no ridículo de chamar as lavouras de eucaliptos de “florestas” (os colegiais de São Sepé sabem distinguir lavouras de florestas, mas eles não!).

O representante da Fetag foi apresentado pelo coordenador como “companheiro” (compuseram uma mesa de amigos, mas quem o convidou e por quê?), falou de nada e foi a lugar nenhum. Citou que o projeto da Aracruz seria uma opção de desenvolvimento (só para a Aracruz, pois para São Sepé não será!). Aliás, a mesma manifestação acanhada de outros políticos, que não foram favoráveis, e nem contra (muito pelo contrário), mas que precisavam de alternativas para a região (e sem perder votos).

Autênticos e elogiáveis foram os que se expressaram com clareza de lógica e postura fidedigna, assumindo a defesa dos cidadãos e interesses do município.

Merece destaque, e com nome, o coordenador dos trabalhos, o deputado estadual e presidente da Comissão de Agricultura, o Sr. Adolfo Brito! “Fantasiou-se” de simpatia e conduziu a audiência como quis e, querendo ”tudo transparente”, transpareceu a franca parcialidade com que tratou o seu amigo da Aracruz (dedicou-lhe a naturalidade e pessoalidade do primeiro nome), multiplicando-lhe os minutos para dar respostas fantasiosas. Achando que se dirigia a abrutalhados e ignorantes, grosseiramente iniciou pedindo aos sepeenses respeito às falas, mas aceitou as desrespeitosas aleivosias do amigo “aracruzense”. 

A seqüência das manifestações foi a que ele quis, não a da inscrição e, de súbito, numa pressa injustificável (seria por que a maioria criticava ou pedia cautela para com o projeto?), diminuiu o tempo de fala dos cidadãos quase pela metade, pois o que “tinha que ser transparente”, não era importante. Afinal, três ou quatro horas de debate chegam para definir o futuro dos sepeenses. Desconsiderou os graves alertas dados por muitos, não teceu comentários sobre as falas contrárias ao projeto (que foram a maioria) e, ao final, tentou escamotear a resposta para um agricultor que se manifestou já no encerramento, aproximadamente nestes termos: “Sou lindeiro da Aracruz, os eucaliptos fazem sombra quase até perto do meio dia na minha plantação e este local está cada dia mais seco. O que devo fazer?” Espertamente o deputado disse que depois o amigo “aracruzense” daria a resposta, só recuando do propósito após a expressa exigência dos presentes. O ainda acuado engenheiro florestal da Aracruz repassou o problema para um colega, que sem ter o que dizer, deu a resposta que todos dão em todos os lugares: “Não sabia de nada! Estava acontecendo, é? Não tinha conhecimento, mas iria averiguar, ver se estava tudo certo! Mas iria resolver e depois daria a resposta...” Quando? Jamais!!!

Quando voltava para Pelotas, dei-me conta de que esta pergunta do agricultor fora um dos momentos mais importantes do debate. Tínhamos um cidadão que colocava de forma simples e clara o seu problema; estava sendo prejudicado e nós, presentes, não nos demos conta e não partimos efetivamente em seu auxilio. Assim, sugeriria que o prefeito e o Presidente da Câmara de Vereadores o busquem imediatamente para saber como auxiliá-lo, pois o problema dele é e será o mesmo percalço de muitos. Da minha parte, comprometi-me a tentar achar aquela pessoa e, se ele concordar, denunciaremos ao Ministério Público Federal e Estadual mais esta agressão, entre as tantas que as empresas de celulose promovem.

Após a audiência fui com o Dr. Luiz Armando até a área rural e falamos com dois agricultores que acompanharam o evento pelo rádio. Expressaram o sentimento dos muitos que estão preocupados com o avanço das plantações, pois sabem o quanto o projeto é ruim para a região. Então, este pessoal arrogante e atrevido das empresas e seus simpatizantes, não podem chegar numa região difundindo tantas mentiras e ilusões, num flagrante desrespeito a um município inteiro, achando que estão tratando com ignorantes, fazendo o que querem e ficar impunes. Lembremo-nos; “esta terra tem dono”.

Agradeço a hospitalidade de sempre.

Althen Teixeira Filho é doutor e  professor titular no Instituto de Biologia da Universidade Federal de Pelotas.
althen@ufpel.tche.br / althent@gmail.com

  
             
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