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Biodiversidade

Segunda-feira, 26 de Março de 2012

 
     

Pesquisa sobre história ambiental do bioma Pampa é publicada em capítulo

  

Cronologia engloba quatro marcas temporais, que são consideradas os ciclos de transformações ambientais: a chegada do ser humano à região do Pampa; a chegada dos europeus; a agricultura industrial; as mudanças climáticas induzidas pelo ser humano

  

Reprodução ONG Mira Serra    
Professor Rafael Cruz


Por Heleno Nazário para Assessoria de Comunicação Social da Unipampa

Uma proposta de história ambiental do bioma Pampa, da época da megafauna à introdução da agricultura tal como ela existe hoje no Rio Grande do Sul. A leitura parte de análise de dados existentes na literatura científica sobre características do Bioma hoje e indícios sobre como era a relação entre a flora e a fauna do Pampa ao longo de períodos marcados por inovações trazidas pelo ser humano. 
O parágrafo acima serve como uma primeira apresentação do capítulo “Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem baseada na relação entre Perturbação e mudança”, assinado pelo professor Rafael Cabral Cruz, do Campus São Gabriel da Universidade Federal do Pampa, em parceria com o pesquisador e docente Demétrio Luis Guadagnin (UFSM). O capítulo integra o e-livro A Sustentabilidade da Região da Campanha- RS: Práticas e teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas, coordenado pelos professores Benhur Costa, João Quoos e Mara Dickel. 
 
O livro foi publicado pelo PPG em Geografia e Geociências da UFSM e o capítulo se encontra disponível para download aqui.
 
Uma interpretação da evolução do bioma 
O capítulo sistematiza uma linha do tempo para a cobertura vegetal da paisagem do pampa gaúcho a partir de indícios científicos sobre como eram - e se modificaram - o nível do mar, o relevo e as formas animais e vegetais no período a partir de 18 mil anos atrás, tendo em conta o conceito do Ecossistema Humano Total – ETH, no qual os elementos da paisagem transformados pelo ser humano interagem com os demais elementos através de fluxos de massa, energia e informação. 
A proposta de cronologia engloba quatro marcas temporais, que são consideradas os ciclos de transformações ambientais. A primeira é a chegada do ser humano à região do Pampa, processo que teria levado à extinção de animais herbívoros de grande porte e à modificação da constituição vegetal, de campos baixos para plantas de campos altos. A segunda marca é a chegada dos europeus, que introduziram o gado no Pampa e fomentaram o crescimento populacional e uma nova forma de organização das coletividades humanas, com estâncias e cidades. 
A agricultura industrial marca o início do terceiro ciclo, com uma aceleração das mudanças na cobertura vegetal e a implantação de uma matriz de agroecossistemas, o que levou a lavoura (incluindo a silvicultura) a ocupar o espaço de campos nativos, áreas úmidas e florestas aluviais e a promover uma inserção de espécies para manutenção do gado. Um dos resultados em termos ecológicos é a redução da biodiversidade, enquanto ocorre culturalmente uma desterritorialização do gaúcho, uma vez que se reduziu o espaço da estância e das vivências que formaram esse tipo humano. 
As mudanças climáticas induzidas pelo ser humano indicam o quarto ciclo de transformações, com uma sinergia entre alterações naturais e os aumentos na emissão de gases que alteram o funcionamento do efeito estufa, por meio do desmatamento e da queima de combustíveis fósseis, provocando o que se chama de “savanização” do clima no Pampa, com temperaturas mais quentes, chuvas sazonais e mudanças na flora e na fauna. O capítulo aponta que ainda existem incertezas quanto a este cenário, considerado como uma possibilidade em estudo. 
Um dos apontamentos do estudo indica uma aceleração do ritmo de mudanças dos elementos do bioma pampa. Enquanto no primeiro ciclo o período de alterações durou milhares de anos, com a chegada do homem europeu e o desenvolvimento social e tecnológico, as mudanças passaram a ocorrer em escalas de centenas e depois, dezenas de anos. O professor Rafael diz não acreditar que esse processo pudesse ter sido diferente: 
-A percepção deste processo pela sociedade não é um processo unicamente de informação, mas depende de transformação das representações sociais, e este processo envolve a mudança da cultura dominante e do sistema capitalista que a mantém. 
Em relação ao processo de “savanização” (clima mais quente, chuvas sazonais) do território que constitui o bioma Pampa, o professor Rafael ressalta que é um cenário possível, talvez o mais provável conforme os estudos realizados pelo INPE, não se tratando de uma “profecia”. 
- A questão não é se a savanização está ocorrendo, mas, sim, como a sociedade vai lidar com os riscos associados a esta possibilidade, cada vez mais forte. 
Ele afirma ainda que amenizar os efeitos é uma atitude que vai envolver muito trabalho de pesquisa para estudar a sinergia entre a mudança no uso da terra, a mudança climática e as práticas de manejo dos remanescentes de bioma Pampa. 
 
Sociedade e natureza 
O professor Rafael explica que uma contribuição do estudo é a compreensão de uma co-evolução entre o ser humano e os ecossistemas: 
- Como o clima do RS é florestal, a ausência de manejo pelo ser humano pode levar ao desaparecimento deste bioma, pois o devir seria o estado (do Rio Grande do Sul), dado tempo suficiente sem manejo pelo ser humano, estar coberto pelas formações florestais do bioma Mata Atlântica. Deste modo, a conservação do bioma Pampa não pode ser pensada sem o manejo humano. A questão é "qual o manejo adequado?" 
A discussão é urgente, afirma o professor Rafael, especialmente em função do quadro de mudanças climáticas - os cenários mais prováveis podem conduzir a uma savanização do clima, o que afetaria os esforços para um manejo racional do bioma. 
A leitura histórico-ambiental proposta por estudos como o apresentado pelos professores Rafael Cabral Cruz e Demétrio Guadagnin propõe uma visão da Ecologia na qual a relação sociedade – natureza seja estudada de forma não-dualista. 
- O ser humano é parte da natureza e assim deve ser estudado. Ele é parte do processo de auto-organização do ecossistema total humano. Este processo pode conduzir a múltiplos cenários possíveis de futuro, dependendo da forma como se processam as decisões do ser humano. 
O professor afirma que a ligação entre a sociedade e a natureza é um processo auto-organizativo e de caráter histórico, pois os eventos do passado condicionam, de forma não-determinante, os cenários possíveis no futuro. Por esta linha de raciocínio, a compreensão da dinâmica do bioma ou da paisagem não pode ser feita sem a reconstrução das diversas alterações que o trabalho humano provocou no processo de auto-organização dos seres vivos do ecossistema ao longo do tempo. 
 
De um convite a um capítulo 
A história sobre como surgiu a pesquisa é pitoresca. O professor Rafael conta que foi convidado para ministrar uma palestra sobre tradicionalismo e bioma Pampa em um CTG de São Gabriel em 2007, uma vez que o MTG havia determinado a questão ambiental como tema. 
- Como eu não era vinculado ao MTG, pensei no que um pesquisador na área da Ecologia de Paisagem poderia contribuir, e resolvi contar uma história ambiental do pampa, de forma sintética. 
A primeira palestra foi bem recebida a ponto de render convites para apresentação em vários eventos do MTG em São Gabriel e Santana do Livramento, e atividades da UNIPAMPA, e em outras ocasiões, como um encontro de formação de professores no município de Rosário do Sul, e mesmo em um evento da maçonaria em Dom Pedrito. 
As palestras levaram a um convite para palestrar em um evento do PPG em Geociências da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Após o evento, o professor Rafael convidou o professor Demétrio Guadagnin, professor da UFSM, que é biólogo da conservação e com experiência no estudo de espécies invasoras no bioma Pampa, para auxiliar na sistematização e aperfeiçoamento da abordagem, em um trabalho que levou três anos para chegar ao capítulo publicado. 
Unipampa

  
  
  
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