Untitled Document
Bom dia, 20 de abr
Untitled Document
Untitled Document
  
EcoAgência > Notícia
   
Povos originários

Terça-feira, 03 de Maio de 2022

 
     

Povo Parakanã do Grupo de Maroxewara divulga pedido de cessação das ameaças

  

"Não digam que não nos querem na cidade, pois esse lugar é nosso também," afirmam em carta dirigida aos não-indígenas de Novo Repartimento, no Pará, onde no sábado (30/04), os corpos de três homens desaparecidos foram encontrados dentro da Terra Indígena

  


Por Redação da EcoAgência

Conflito no território ancestral parakanã, no estado do Pará, atualmente sede da Terra Indígena Parakanã (T.I.) e do município Novo Repartimento (ambos criados em 1991), se agrava desde o desaparecimento de três homens não indígenas. Familiares e amigos informaram que, em 24 de abril, saíram em direção à T.I. para caçar e, por não terem retornado, pediram ajuda para a realização de buscas,  no território de 352 mil hectares, à polícia local e aos habitantes da T.I. Porém, em 25 abril, conforme o divulgado pela APIB, os parakanã foram cientificados dos acontecimentos no interior de seu território, através das ameaças e ofensas diretas e dos discursos de ódio que passaram a circular nas redes sociais. Esta situação se intensificou desde sábado (30), após os três corpos terem sido encontrados dentro da T.I. A Polícia Federal ainda não divulgou a causa das mortes e, em notícia da APIB com o relato dos fatos ocorridos entre 25 e 26 de abril, o povo Awaeté afirmava não ter envolvimento algum como o caso e cobrava a máxima proteção por parte as autoridades brasileiras.

A seguir, reproduzimos a carta do Povo Parakanã do Grupo de Maroxewara, divulgada no Pará ontem (02/05), em vista das ameaças e ofensas direcionadas, de modo crescente, aos indígenas em geral daquela região. Este grupo se localiza no município Itupiranga, onde está quase 40% da Terra Indígena Parakanã. 60% da T.I. ficou localizada no município Novo Repartimento.   

 

 

GRUPO DE MAROXEWARA AWAETE PARAKANÃ

 

Município de Itupiranga, T. I. Parakanã, 02 de maio de 2022.

Prezados amigos(as) e irmãos(ãs) Toria (não-indígena) de Novo Repartimento e familiares.

Como Povo Parakanã do Grupo de Maroxewara das aldeias Maroxewara, Inaxyganga, Parano’a, Itapeyga, Paranoema, Parano’ona, Paraxotinga, Maropahyga pertencentes ao município de Itupiranga – PA, vimos nos manifestar diante das ameaças provocadas e provindas dos senhores devido três jovens caçadores que penetraram na Terra Indígena Parakanã no Município de Novo Repartimento, no lugar onde moram os nossos parentes do Grupo de Paranatinga.

Irmãos de Novo Repartimento e região, gostaríamos de destacar com nossas palavras de Awaete Parakanã do Grupo de Maroxewara, Parakanã Ocidental, assim denominados pela sociedade envolvente, que para seu conhecimento, a Terra Indígena Parakanã está situada em dois municípios: Novo Repartimento e Itupiranga. E, ressaltamos que nós Parakanã Ocidentais do Grupo de Maroxewara, temos um legado a zelar dos nossos avós e avôs, tataravós e tataravôs chamado RESPEITO. Sim, respeito. Somos ensinados a respeitar a todas as pessoas, independente de sua cor, raça, origem, opções de vida etc. Nosso povo, o Grupo aqui mencionado, sempre procurou manter esse respeito. Por sermos pessoas que respeita o seu próximo, pedimos o seu respeito pelas nossas crianças, velhos, jovens e lideranças.

Aqui no mundo indígena Awaete Parakanã Ocidental ensinamos as novas gerações Awaete a terem um bom olhar, para serem cidadãos exemplares e tomarem decisões sensatas e acima de tudo valorizarem a vida e aprenderem em conjunto com a sociedade brasileira civilizada que nos cerca. Os nossos cidadãos Awaete reconhecem os valores patrimoniais que são provenientes do nosso povo. Nós habitamos esse lugar (Novo Repartimento e Itupiranga) há muito mais tempo. Quando a Transamazônica foi construída, não existia Novo Repartimento, mas já existia Awaete nesse lugar. Nosso povo foi morto pelas doenças trazidas pelas pessoas que vieram pela Transamazônica. Depois foi construído a Hidrelétrica de Tucuruí e com a formação do lago mais uma vez o nosso povo foi expulso desse lugar e muitos morreram com a malária e problemas advindos desse impacto socioambiental. O que queremos dizer, é que sempre nós vivemos aqui. Vocês chegaram depois, nasceram depois. Por isso nós queremos dizer para que não nos ameace, não digam que não nos querem na cidade, pois esse lugar é nosso também. Nós desejamos viver em paz. Não lancem o seu ódio contra os Awaete, pois isso não é justo.

Dessa forma, o intuito deste documento é para alertarmos os toria (não indígenas) para que cessem de nos ameaçar. Não queremos conflitos irmãos, e nem as suas ameaças. Pedimos que nos deixem em paz.

Vivemos na nossa casa. Moramos em nosso território demarcado, homologado e expedido em Cartório Civil (Reserva Indígena de Uso Exclusivo dos Parakanã). Os senhores não podem nos julgar assim como também não temos o direito de julgar o seu mundo, nem invadir suas propriedades. O Grupo de Maroxewara clama a vocês por RESPEITO e PAZ. Vamos viver e os nossos filhos também. Somos inocentes para sua decisão e para sua história desde a invasão do território brasileiro. E, finalizamos pedindo a compreensão de vocês sobre essa nossa mensagem.

 

Atenciosamente,


Grupo de Maroxewara Parakanã Ocidental
Município de Itupiranga, Pará.

 

 

 

Leia também: Terra Indígena Parakanã é invadida por caçadores e os indígenas da etnia awaeté recebem ameaças

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EcoAgência

  
  
  
Untitled Document
Autorizada a reprodução, citando-se a fonte.
 
Mais Lidas
  
Untitled Document
 
 
 
  
  
  Untitled Document
 
 
Portal do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul - Todos os Direitos reservados - 2008