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Saúde

Quarta-feira, 21 de Março de 2012

 
     

Pesquisa da FSP mostra que chumbo pode causar comportamentos trangressores em jovens

  

Fatores normalmente associados a problemas psicossociais nos jovens, podem ter uma causa extra.

  


Por Thiago Minami - USP

Comportamento agressivo, atos de vandalismo e baixo desempenho escolar. Fatores assim, normalmente associados a problemas psicossociais nos jovens, podem ter uma causa extra. Uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP mostra que a exposição ao chumbo leva ao aumento das atitudes transgressoras e causa prejuízos psicológicos. Pesquisadores estrangeiros já haviam observado danos semelhantes. Agora, a cirurgiã dentista Kelly Polido Kaneshiro Olympio, em seu trabalho de doutorado, confirmou a relação numa amostra de 173 jovens em Bauru, interior de São Paulo.

O corpo de crianças absorve chumbo com mais facilidade que o de adultos. Além disso, os pequenos tendem a colocar objetos como brinquedos na boca, aumentando o risco da exposição. “Não há um nível de exposição ao chumbo que seja seguro à saúde humana. Estudos recentes têm demonstrado prejuízos neurocomportamentais ligados a concentrações muito baixas no sangue”, diz a pesquisadora.

Os selecionados residiam em bairros com altos índices de violência. Kelly analisou o esmalte – a parte que enxergamos do dente – para identificar a carga corporal de chumbo nos jovens. Também foram aplicados questionários a pais e filhos sobre o estabelecimento de comportamento antissocial, cometimento de atos infracionais, condições familiares e contexto socioeconômico. O cruzamento dos dados apontou uma associação entre agressividade, tendência a quebrar regras, problemas sociais, e queixas físicas com maiores níveis de chumbo no corpo.

Proximidade

Os mais afetados viviam em regiões próximas a fábricas que utilizam o chumbo ou que conviviam com empregados dessas empresas. “O metal está presente em muitos itens do nosso cotidiano, como cerâmica, plásticos, pigmentos e baterias. Também em esmalte anticorrosivo para portões, brinquedos piratas e produtos domésticos de baixa qualidade”, explica a pesquisadora.

Ela ressalta que a redução do uso de chumbo é muito desejável. “Há um movimento global da Organização Mundial da Saúde (OMS) para eliminação de chumbo em tintas. Também preocupa a contaminação pelo metal causada pelas baterias, devendo haver um esforço para que se regule o caminho percorrido por este produto, desde sua origem até o descarte final”, explica. E é necessário que haja uma fiscalização mais rigorosa sobre os importados, “principalmente aqueles de baixa qualidade destinados ao público infantil”, conclui.

Além disso, a pesquisadora recomenda a conscientização de pessoas que trabalham com chumbo, para que saibam evitar ou minimizar a exposição e não levem a ameaça para casa. E é preciso reforçar a vigilância ambiental dessas indústrias, para minimizar a exposição da população vizinha e os consequentes efeitos à saúde.

Prejuízos

Os prejuízos nos jovens permanecem até idades mais avançadas. Um estudo publicado nos Estados Unidos, em 2008, mostrou uma associação entre exposição a chumbo durante o crescimento e comportamento criminoso em adultos. Neles, a exposição pode causar hipertensão, neuropatias, perda de memória e irritabilidade, entre outras doenças. Pode-se chegar até a morte, dependendo do nível da exposição.

Segundo Kelly, a América Latina está pouco preparada para lidar com a situação. No Brasil, só em 2008 foi aprovada uma lei que limita a quantidade de chumbo na fabricação de tintas imobiliárias e de uso infantil e escolar, vernizes e materiais similares. A situação é diferente nos Estados Unidos, onde o uso é restrito há mais tempo. Lá, a lei foi recentemente atualizada, delimitando a concentração de chumbo permitida a níveis mais baixos do que os fixados no Brasil.

“Ainda precisamos conhecer a extensão do problema da contaminação por chumbo no Brasil”, diz Kelly. No momento, ela coordena uma pesquisa sobre a exposição de crianças ao chumbo no município de São Paulo, que vem sendo desenvolvida no Departamento de Epidemiologia da FSP, sob a supervisão da professora Maria Regina Alves Cardoso, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp), OMS e Organização Panamericana de Saúde (OPAS).

Mais informações: email kellypko@usp.br, com Kelly Polido Kaneshiro Olympio.

USP/EcoAgência

  
  
  
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