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Quinta-feira, 03 de Setembro de 2020

 
     

Rede de Orgânicos de Osório celebra quatro anos de boa alimentação no Litoral Norte (RS)

  

Além de plantarem para si possuem a comercialização em rede como meio de sustento, vendendo inclusive em outros pontos de comércio, como feiras

  


Por Eduardo Rupphental e Fernanda Bobsin*

 

A partir de reflexões e questionamentos sobre a insustentabilidade social e ambiental do modelo agroalimentar hegemônico, cuja prioridade é a produção de comodities agrícolas para a exportação, baseada no uso desenfreado de agrotóxicos, que apesar de muitos estarem proibidos nos países de origem e até no Brasil, são usados amplamente, tornando o país um dos maiores consumidores de venenos no mundo.

Há amplas evidências científicas das diversas consequências à saúde da população, pois são cancerígenos, colocando em risco a saúde de quem produz e de quem consome.

Como consequência ambiental, mencionamos a forma de produção, que ocasiona inúmeros impactos negativos, como a destruição de ecossistemas e habitats, fauna e flora e redução da biodiversidade, para ocupação das áreas com pastagens e monoculturas. 

Lamentável é que os seis biomas brasileiros – Pampa, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado, Amazônia e Pantanal - estão sendo impactados por esse modelo. Neste momento, destacam-se as queimadas e os desmatamentos, que colocam estes três últimos biomas literalmente “em chamas”.

O modelo do agronegócio reflete uma dieta alimentar cada vez mais homogênea, baseada em poucas espécies e alimentos que percorrerem milhares de quilômetros, viciados em petróleo, pobres em nutrientes e que na sua forma de produção podem causar inúmeros impactos negativos, já mencionados.

            Como alternativa a esse modelo, que tem a sua origem recente, no período pós-Segunda Guerra Mundial, com a introdução dos agrotóxicos, (res) surgem várias outras. Algumas existentes desde os primórdios da agricultura realizada pela humanidade e, outras, que estão sendo (re) construídos por milhões de agricultoras e agricultores pelo mundo afora. Assim, além de resistir, a (s) agricultura (s) alternativa (s) estão em pleno crescimento, tanto no Brasil como no mundo.

 

            Rede de Orgânicos

            A Rede de Orgânicos de Osório é uma experiência de cadeia produtiva curta, que aproxima os produtores e os consumidores, surge e contribui na organização desse canal de comercialização direta, encurtando o caminho dos alimentos e trazendo vantagens para todos: econômicas, sociais, culturais e ambientais.

Um dos pontos principais a serem considerados é a saúde coletiva, de quem produz e de quem consome, além de manter o meio ambiente saudável. Neste formato de produção, solo, ar, água, fauna e flora não são contaminados com o uso de agrotóxicos. Além disso, é fornecida uma enorme diversidade de alimentos e inúmeras espécies, com vasta quantidade de nutrientes, necessários e fundamentais para o funcionamento das relações biológicas do corpo humano e o fortalecimento do sistema imunológico.

            Os produtores da Rede de Orgânicos, assim como tantas outras experiências no Litoral Norte, além de plantarem para si, sua família possui essa comercialização em rede como sustento, vendendo inclusive em outros pontos de comércio, como feiras. Surge então esta outra possibilidade para o escoamento da produção: a Rede de Orgânicos de Osório.

 

            Comercialização

Os produtos da rede inicialmente eram solicitados através de pedidos via rede social whatsapp, em um projeto piloto iniciado com alunos da turma de Pós-Graduação Lato Sensu em Meio Ambiente e Biodiversidade da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), unidade Litoral Norte, localizada em Osório.

A entrega dos produtos era feita na Unidade da Universidade durante o período de realização do curso, por agricultores e consumidores. Concomitante ao grupo da Uergs, a Rede de Orgânicos ia agregando outros consumidores interessados que retirar suas cestas na Feira dos Produtores de Osório.

A rede de orgânicos vem se expandindo em relação ao número de agricultores que hoje fazem parte do grupo, aos consumidores que vêm agregando, ao seu alcance, ao seu formato e às parcerias que vem tecendo.

 Atualmente os pedidos acontecem via site https://www.rededeorganicos.com.br, fruto de um projeto de extensão do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS campus Osório). Em Osório, as cestas são montadas pelos agricultores e consumidores e retiradas pelos consumidores no Sindicato dos Trabalhadores Rurais (neste período da pandemia), nos sábados. As cestas também estão sendo entregues em Imbé e Xangri-lá (quartas-feiras) e contam com a colaboração de consumidores na entrega. Além do IFRS Campus Osório, outra parceria que tem colaboração acadêmica é a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs - Campus Litoral Norte, em Tramandaí).

Além de ser um canal de comercialização de alimentos orgânicos, sem agrotóxicos, a Rede tem o compromisso de valorização da alimentação saudável e da agricultura familiar, da saúde coletiva e da preservação ambiental dos ecossistemas relacionados ao Bioma da Mata Atlântica.

Neste sentido, também promove atividades diversas, atualmente suspensas devido à pandemia, tais como rodas de conversa, cine debate, troca de sementes, oficinas e cursos de alimentação saudável, como o aproveitamento integral dos alimentos e uso de Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc’s). Também é realizada a integração com as aldeias indígenas e visitas dos consumidores às propriedades rurais, fortalecendo a confiança e a identidade e, o essencial, a troca de vivências e experiências entre mulheres e homens do campo e da cidade.

 

Auto-gestão e participação

Destaca-se que a Rede que é um exemplo de auto-gestão a partir da tomada de decisão compartilhada entre os agricultores e os consumidores, já que há reunião semanal para decidir todas as questões e demandas que surgem. Um importante parceiro neste processo é a Emater/RS-Ascar, que esteve junto desde o início da Rede, auxiliando no fortalecimento do trabalho.  Atualmente, as reuniões acontecem de forma online. Os produtores da Rede são integrantes da Opac Litoral Norte ou da Ecovida, sendo as duas certificações participativas.

A Rede tem muitos significados para todos. Não somos os únicos e há tantas outras maneiras de organização, fundamentais e necessárias para o momento atual. Estamos no início da caminhada, feita de forma coletiva e por muitas mãos. Temos muitos desafios, tanto nossos, como também de ajudar na multiplicação de outras experiências.

Sabemos que não estamos sós e precisamos cada vez mais nos organizar, pensando na coletividade e na alimentação de verdade em nossas mesas. Em tempos de pandemia, de aumento de fome e desnutrição de milhões, onde poucos lucram muito e transformam os alimentos em mercadoria, que envenenam corpos, seres vivos e ambientes, esta reflexão é mais do que necessária.

Ressaltamos o nosso compromisso com a alimentação saudável, a segurança e soberania alimentar, as sementes como patrimônio da humanidade, a Agroecologia, o fortalecimento da agricultura familiar, a valorização do agricultor, a saúde das pessoas e dos demais seres vivos e do nosso Planeta Terra. Nosso compromisso é com esta e com as futuras gerações. Em defesa da Vida! Vida longa à Rede de Orgânicos de Osório! 

 

*Eduardo Luís Ruppenthal, consumidor, integrante da Rede de Orgânicos de Osório, biólogo, professor da rede pública estadual, especialista em Meio Ambiente e Biodiversidade (Uergs) e mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR/Ufrgs).

*Fernanda Bobsin Dai-Prá, consumidora, integrante da Rede de Orgânicos de Osório, bióloga, consultora ambiental, especialista em Gestão Ambiental (Faculdade Dom Bosco) e especialista em Meio Ambiente e Biodiversidade (Uergs).

 

Autorizada a reprodução, citando-se a fonte.

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