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Observatório de Jornalismo Ambiental

Sexta-feira, 02 de Junho de 2023

 
     

Alguns apontamentos sobre o marco temporal no Portal Metrópoles

  

O Metrópoles discutiu, nessa semana, sobre direitos indígenas ouvindo principalmente os próprios indígenas, dando espaço às entidades que os representam e localizando o leitor sobre o assunto

  

Foto: Lula Marques/Agência Brasil    


Por Eutalita Bezerra*

As mais recentes movimentações políticas relacionadas ao meio ambiente brasileiro têm sido tema de intensos debates e alcançado grande interesse da população. De acordo com dados do Google Trends, a pesquisa por “Marco temporal das terras indígenas” subiu mais de 850% somente nesta semana, momento em que Congresso e o Governo Federal estão em lados opostos. Discutiremos, neste texto, a abordagem do assunto por parte do portal Metrópoles, um dos sites mais visitados do país atualmente.

Considerando publicações feitas desde a aprovação no Congresso do regime de urgência para votação do marco temporal, em 24 de maio, até o dia 30, às vésperas da votação, o portal publicou cinco vezes sobre o assunto, sendo uma delas um extenso texto patrocinado. Este indica que a revisão do marco “pode prejudicar o país” e se ancora na ideia de que haverá um “risco de crise agrária sem precedentes”, além de um “impacto negativo bilionário para o agronegócio”. A publicação é patrocinada pela Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e a Associação Mato-Grossense dos Produtores de Algodão (Ampa).

Além do conteúdo pago, o assunto também foi exposto no Blog do Noblat, hospedado no Metrópoles. Na publicação intitulada “Bancada ruralista desenterra PL do marco temporal para driblar STF”, se faz um breve histórico do assunto e destaca-se que a movimentação do referido projeto de lei é patrocinada pela bancada ruralista. Embora seja um espaço opinativo, o texto é objetivo e não traz uma análise dos fatos.

Outras três publicações foram feitas no mesmo período. Em “Marco temporal e desmonte de ministérios: Congresso esvazia meio ambiente“, os jornalistas exploram as perdas políticas da gestão da Ministra Marina Silva. Neste são citadas entidades contrárias ao marco temporal, como a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o Greenpeace Brasil e o Instituto Socioambiental (Isa), e são ouvidos apenas pessoas que estão ao lado da causa indígena: a Ministra Sonia Guajajara; a presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann e a Deputada Federal Célia Xakriabá.

Outra publicação feita no mesmo período tem como principal fonte a presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Joênia Wapichana. O texto intitulado “Marco Temporal viola direitos indígenas, afirma presidente da Funai” ouve exclusivamente Joênia, destacando a inconstitucionalidade da pauta proposta pela bancada ruralista, bem como os motivos pelos quais, para as entidades representativas dos povos originários, a manutenção do marco temporal representaria uma violação aos direitos indígenas.

Por fim, em “Mark Ruffalo pede que Lula impeça marco temporal das Terras Indígenas“, o Portal Metrópoles explora a publicação feita pelo intérprete de Hulk em suas redes sociais. Conhecido pelo ativismo ambiental, Ruffalo se manifestou sobre o assunto, compartilhando uma publicação da deputada Celia Xakriabá e convidou outros artistas a fazerem o mesmo. A publicação também não ouviu a bancada do agro, que trouxe o assunto novamente à tona.

Embora as mídias tradicionais habitualmente ofereçam maior espaço ao peso econômico das pautas ambientais, no caso do Metrópoles este ponto de vista foi levantado apenas na publicação paga. O Metrópoles discutiu, nessa semana, sobre direitos indígenas ouvindo principalmente os próprios indígenas, dando espaço às entidades que os representam e localizando o leitor sobre o assunto — que ainda é desconhecido para muitos, dada a exploração superficial que vem recebendo. Apesar da publicação paga, o Portal não perdeu a oportunidade de se diferenciar dos demais. Parece que é um caminho.

 

* Texto produzido no âmbito do projeto de extensão "Observatório de Jornalismo Ambiental" por integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS). A republicação é uma parceria com o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS). Eutalita Bezerra é jornalista, mestra e doutora em Comunicação e Informação pela UFRGS. Membro do grupo de pesquisa Jornalismo Ambiental.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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