Reprodução de perfil pessoal |
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Ingrid Sateré-Mawé, membra da ANMIGA |
Por Alice Rodrigues - estagiária da EcoAgência* Historicamente, as mulheres indígenas desempenham um papel fundamental em defesa dos territórios e da biodiversidade, e mais recentemente, na luta contra o marco temporal. Para entender os desdobramentos da mobilização feminina indígena, conversamos com a ativista indígena, professora e membra da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), Ingrid Sateré-Mawé. Ela também falou sobre como a mídia tem reportado este protagonismo.
Segundo Ingrid, além de participarem da luta contra o marco temporal desde o início, as mulheres indígenas também estão inseridas na luta diária por vários outros direitos.“Estas mesmas mulheres estão na linha de frente das lutas nos territórios, também lutam pela vida dos povos indígenas, lutam por questões relacionadas à saúde e educação, por exemplo. São elas que também estão em outros espaços, como na cidade, reivindicando esses direitos. As mulheres provenientes de distintas regiões do país têm participado em peso de todas as mobilizações”, afirma.
Entretanto, a cobertura da imprensa não tem se voltado adequadamente a escutar as falas dessas mulheres e quando os grandes veículos reportam, dificilmente elas são as fontes principais. “Em relação à cobertura midiática, muitas vezes, as mulheres aparecem em fotografias. No entanto, são poucas as vezes em que somos escutadas, e não apenas nós mulheres indígenas, mas os povos indígenas como um todo. Nos grandes jornais e, até mesmo nos menores, é pequena a presença de mulheres indígenas falando. Temos a sorte de termos a ministra e as deputadas. Mesmo assim, na grande cobertura jornalística, vemos indigenistas ou outras pessoas que nunca tiveram envolvimento com a causa tendo mais prestígio, pessoas que ainda falam por nós”, declara Ingrid.
Ameaças do marco temporal
Segundo um levantamento lançado em maio de 2023 pela ONU Mulheres, a violação dos direitos humanos das mulheres indígenas e a discriminação com base em gênero irão se agravar a partir de medidas como o marco temporal. Tais resultados são contraditórios quando considerados os compromissos assumidos pelo Brasil por meio da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW), ratificada em 1984. Entre eles, está o compromisso do Artigo 5º, que propõe que os Estados-Partes tomem medidas apropriadas para modificar padrões socioculturais entre homens e mulheres, a fim de eliminar preconceitos baseados em ideias estereotipadas.
De acordo com Ingrid, diante de um contexto social cada vez mais ameaçador, são muitas as inseguranças que as atingem, mas iniciativas como a fundação da ANMIGA as ajudam a se fortalecerem para encarar todos os desafios. “As mulheres indígenas vivem sob opressão, sofrem uma exploração muito forte e que não é falada. Então, a não demarcação de territórios traz uma insegurança muito maior e se não tiver um planejamento para a segurança, o conflito vai ficar mais acirrado. Nós, mulheres indígenas, estamos muito apreensivas. Através da ANMIGA, estamos reunindo mulheres de todos os biomas brasileiros para que possamos criar um espaço de escuta e conhecer todas as demandas. Nós somos a população que mais vai ser afetada nesse meio onde os grandes empresários, latifundiários e ruralistas estão mais preocupados, acima de tudo, com o seu lucro, sem se importar com as vidas que estão sendo destruídas: indígenas, pobres, pretas e LGBTQIA+ e toda diversidade.”
Ingrid também destacou o Manifesto da ANMIGA “Reflorestarmentes”, chamamento à humanidade para reflorestar mentes e corações através de uma nova forma de reconexão com a Mãe Terra, exortando a conservação e a preservação em benefício de todos os seres. Embora pacífica, toda a mobilização indígena está enfrentando uma dura perseguição também no Congresso Nacional. Em nota, a Apib denuncia o machismo que baseia a ameaça de cassação dos mandatos das deputadas federais indígenas Célia Xakriabá e Juliana Cardoso e das parlamentares aliadas dos povos indígenas Taliria Petrone, Samia Bonfim, Erika Kokay e Fernanda Melchionna.
*Estudante de Comunicação Social habilitação Jornalismo, sétimo semestre, na Universidade Federal de Santa Maria campus Frederico Westphalen-RS, orientanda da professora Doutora Cláudia Herte de Moraes, com supervisão de Eliege Fante, editora da EcoAgência.
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