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Observatório de Jornalismo Ambiental

Terça-feira, 23 de Fevereiro de 2021

 
     

Uma resposta à fragmentação das informações pelo jornalismo hegemônico

  

Quando o tema for bioeconomia e desenvolvimento sustentável, cada cidadão e cidadã precisa buscar os blogs de jornalistas, e fazer a própria pesquisa por documentos das ONG’s, tão criticadas pelo atual governo federal, mas que vêm problematizando os sentidos em disputa na sociedade

  

Fonte: Captura parcial de tela do site GGN     


Por Eliege Fante*

 

A fragmentação das informações, ou a sua apresentação na forma de “retalhos”, difundida pelo jornalismo hegemônico, mais uma vez não somou para a compreensão dos conceitos em disputa na sociedade. É o caso de bioeconomia, um dos principais assuntos do Fórum Econômico de Davos, virtual devido à pandemia da Covid-19 e realizado entre 25 e 29 de janeiro de 2021. Neste link, a notícia do Estadão repetiu as ideias do presidente da Natura, fonte e empresa cativas nas pautas sobre bioeconomia e desenvolvimento sustentável. E apenas reiterou os três pilares da bioeconomia, já circulantes: ciência, pesquisa e inovação, respeito às comunidades locais e desenvolvimento econômico com a “floresta em pé”. Contudo, como esse processo raramente é descrito, problematizado e tampouco as comunidades locais são ouvidas, no mesmo volume e dimensão que os players da grande economia, as informações permanecem fragmentadas tal como “retalhos” dispersos e a serem costurados por quem lê e busca uma compreensão para tentar participar, com alguma lucidez, dos debates sobre os destinos das políticas públicas. 

Por se tratar de uma cobertura, era de se esperar que os assuntos tratados fossem explicados e até tivessem a reflexão aprofundada numa notícia. Neste sentido, a diversidade de fontes no mesmo texto é imprescindível: mais de uma fonte, sendo não somente o contraditório e com exposição do pluralismo; superação do preconceito de que os públicos não leem notícias complexas; ampliação do conceito de “autoridade no assunto” para muito além das fontes oficiais, ou no mínimo, das repetidas exaustivamente. Esses modos de “costurar os retalhos” das informações sobre bioeconomia, entre outros, não são novos, porém são mais conhecidos pelos jornalistas e, não tanto pelos profissionais encarregados de decidir como uma notícia vai ser publicada, por serem mais alinhados aos interesses singulares das empresas de comunicação do que à deontologia do Jornalismo.

Assim, a notícia de cobertura sobre o Fórum de Davos e a bioeconomia acabou cedendo um espaço maior a outro assunto muito sério e, da mesma maneira, com informações fragmentadas. Mas, não foi com qualquer “retalho”: transmitiu a posição do presidente da Natura sobre os debates em torno dos pedidos de impeachment de Bolsonaro (sem partido, 2019-2022), que vêm ganhando força, inclusive sendo organizados por membros da direita brasileira e movimentos que somaram para a deflagração do Golpe de 2016 contra a Presidenta Dilma Rousseff (PT, 2015-2016): a de que o impeachment é desnecessário em nome do “bom senso”. Só que a comparação feita pela fonte entrevistada, entre a “insatisfação” e a “frustração”, expressadas pela população dos países europeus com a da população brasileira, desconsiderou todas as informações reunidas em quase um ano de pandemia, e que um único documento sintetizou dramaticamente: que dos 98 países que tiveram as respostas à Covid-19 avaliadas, o Brasil obteve o pior desempenho.   

Para responder ao desafio de costurar os “retalhos” de informações difundidas pelo jornalismo hegemônico, sobre bioeconomia e outros importantes temas cujos sentidos estão em permanente disputa, e visando uma efetiva participação democrática, cada cidadão e cidadã precisa buscar os blogs de jornalistas, como o GGN de Luís Nassif, o qual difundiu os vídeos do Fórum Social Mundial 2021, há 20 anos alternativo ao Econômico de Davos. E, ainda, pesquisar os documentos das ONG’s, tão criticadas pelo atual governo federal, mas que vêm aprofundando e problematizando os sentidos do desenvolvimento sustentável, da economia verde e da bioeconomia, como este da Fundação Heinrich Boll de 2014. Sem esquecer de apoiar ativamente o fortalecimento da luta pela democratização da comunicação

* Este texto foi produzido por integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS) no âmbito do projeto de extensão "Observatório de Jornalismo Ambiental". A republicação é uma parceria com o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS).

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