Após o desmonte da política ambiental representado pelo governo de Jair Bolsonaro, é hora de colocar a casa em ordem. Porém, elementos como a autoproclamada boa vontade do presidente Lula para incluir o enfrentamento às mudanças climáticas na pauta do governo e a capacidade técnica da equipe que tem Marina Silva no comando podem não ser suficientes para produzir resultados rápidos, conforme o jornalismo brasileiro vem reportando.
A edição desta segunda-feira, 17 de abril, do podcast O Assunto, do G1, ressalta o cenário de terra arrasada na Amazônia. Apesar do trabalho de reconstrução do Fundo Amazônia e da ação contra o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, por exemplo, a capacidade de fiscalização do governo ainda está aquém do necessário, descreve a repórter do jornal Valor Econômico Daniela Chiaretti, que faz um apanhado dos primeiros meses da nova gestão federal.
A análise da jornalista também dá pistas sobre o tom da cobertura a respeito da política ambiental dos próximos quatro anos: o jornalismo deve abrir cada vez mais debate sobre soluções eficazes para os problemas que já estão na ordem do dia, como desmatamento e emissões de gases de efeito estufa, mas passando longe do otimismo e de considerar as intenções dos gestores como garantia de missão cumprida.
A persistente devastação dos biomas brasileiros e as ameaças aos modos de vida de seus povos segue em pauta na mídia independente passados os cem primeiros dias do atual governo. Reportagem do site Amazônia Real publicada na quarta passada, 12 de abril, e assinada por Nicoly Ambrosio sublinha que o governo Lula ainda não demarcou terras indígenas na Amazônia – atualmente, são 31 TIs no bioma aguardando a retomada do processo de demarcação, que foi completamente paralisado na gestão anterior.
Reportagem da jornalista Elizabeth Oliveira publicada em O Eco também no dia 12 avalia os cem primeiros dias e destaca os desafios que vêm pela frente, sobretudo no combate ao crime ambiental e na transversalização da pauta climática. Calcado nas falas de especialistas de diversas instituições e coletivos, o material também alerta para possíveis retrocessos na Amazônia, como o asfaltamento da BR-319, entre Manaus e Porto Velho e a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas. Que o jornalismo siga de olho.
* Texto produzido no âmbito do projeto de extensão "Observatório de Jornalismo Ambiental" por integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS). A republicação é uma parceria com o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS). Débora Gallas Steigledet é jornalista, doutora em Comunicação e Informação e integrante do GPJA/UFRGS.