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Conferência do Clima da ONU

Sexta-feira, 05 de Novembro de 2021

 
     

Saiba como a COP26 está diretamente ligada ao nosso dia a dia

  

Os extremos de temperaturas, calor e frio, são a cada ano mais amplos e frequentes em todas as regiões do planeta, o mar está subindo, as secas estão prolongadas e a escassez de alimentos é uma consequência. E ainda tem mais

  

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Por Kawê da Silva Veronezi, Cláudia Herte de Moraes, Isabela Vanzin da Rocha e Lívia de Mello Trindade para a Cobertura Colaborativa NINJA na COP26*

Até o dia 12 de novembro, líderes mundiais se reúnem na Cúpula da ONU, em Glasgow, para pensar ações conjuntas e emergenciais com um único objetivo: manter o aquecimento global a 1,5° C acima dos níveis da era pré-industrial.  

Dentre outros assuntos, vão discutir: 

  1. Ações que visem proteger grupos mais vulneráveis, como territórios indígenas e comunidades tradicionais, e ainda, garantir financiamento para que consigam enfrentar os efeitos implacáveis da crise climática; 
  2. proteção de recursos naturais; 
  3. transição para o uso de energias renováveis; 
  4. substituição dos combustíveis fósseis no transporte e aumento da eletrificação dos veículos; 
  5. definição de financiamento para impulsionar as mudanças.

As expectativas são altas e é preciso correr contra o tempo na busca de soluções práticas e efetivas. Caso não, o futuro é sombrio. Segundo o Relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) sobre os impactos do aquecimento global, existem dois cenários possíveis. Alcançar o melhor deles, exige compromisso dos líderes que estão em Glasgow. 

A imagem mostra dois cenários: um em que há ações climáticas ambiciosas (SSP1-1.9) e outro em que a economia continua consumindo alta intensidade de carbono (SSP5-8.5). O primeiro cenário pressupõe que houve a limitação do aumento da temperatura do planeta a +1,5ºC. Enquanto no segundo cenário, o aumento segue as projeções embasadas pela realidade atual da Terra, que segue rumo a um aumento de 2,7ºC.

Para limitar a temperatura global em até 1,5ºC entre 2025 e 2044, evitando maiores consequências desastrosas, políticas e diretrizes práticas devem ser acordadas na COP-26. O segundo cenário, por sua vez, é provável se os compromissos seguirem com timidez – em que poucas ações efetivas sejam implementadas. Vejamos algumas consequências presentes no nosso dia-a-dia, a seguir.

 

Extremos: muito quente e muito frio

O clima já não é o mesmo. É comum ver notícias que apontam chuvas em épocas que antes não era provável, que a cada ano que passa a sensação térmica fica mais quente, ou que há intensos picos de frio em lugares que antes a temperatura não caía. 

Cientistas, antes do século XXI, já relataram que o processo de industrialização aumentaria drasticamente nossa relação com o meio ambiente e tornaria nosso planeta mais quente. Após atualizações nos estudos, hoje conseguimos não só compreender como esse avanço se deu como também projetar como o clima tende a aquecer mais conforme os anos. 

No ano passado, no Brasil, diversas cidades registraram temperaturas maiores que 40ºC. Esse calor, na prática, não só causa problemas de saúde como desencadeia mudanças drásticas no planeta, que inclui, a mudança de paisagens.  

 

Cidades litorâneas submersas

O aumento da temperatura causa mudanças ambientais intensas. Uma das modificações que preocupam as cidades litorâneas é o aumento do nível do mar. Antes, um medo distante, hoje já é uma realidade.

Há cidades que já estão sendo inundadas, enquanto em outras as lideranças locais já planejam um plano de emergência para se prevenir dos desastres possíveis por esse aumento. 

Só em Santa Catarina, 22 municípios podem ser engolidos pela água nos próximos 30 anos. Entre outras cidades, estão em alerta Salvador (BA), Recife (Pernambuco), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), Ilhabela (São Paulo).  

É preciso que estratégias de convivência com o avanço do mar sejam desenhadas. No entanto, é possível evitar o aumento acelerado se o limite de temperatura global for estabilizado.

 

Secas prolongadas

Cientistas apontam o Brasil como um dos países mais vulneráveis à desertificação decorrentes das mudanças climáticas. Em uma retroalimentação natural, o aumento das emissões de CO2 impacta o aquecimento da Terra e o contínuo desmatamento na Amazônia contribui para a alteração da biodiversidade. Onde há florestas, daqui 20 anos pode não ter vida.

O secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini, explica que “a retroalimentação está em que, no aumento da temperatura, a Amazônia começa a secar. E, ao começar a secar, ela está mais vulnerável ao fogo e ao desmatamento, e aumenta sua contribuição para o aquecimento do planeta, que fica ainda mais severo e ajuda a secar a floresta e a aumentar as estações secas”.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no Brasil houve um aumento de 7,13% nas taxas de desmatamento da Amazônia entre 2019 e 2020, contribuindo para o aumento de 9,5% de emissão de gases de efeito estufa em 2020.

 

Escassez de alimentos

É fato que a crise climática faz mais gente passar fome. Para além da fome, a crise climática agrava ainda mais a insegurança alimentar. Pesquisas realizadas pela USP apontam que no Brasil o aumento das temperaturas podem chegar a 4 ou 5ºC nas próximas décadas, e esse argumento se fortalece pelas atividades realizadas pelo agronegócio, que possui um sistema de grandes monoculturas espalhadas pelo país. Com isso, embora enriqueça a economia, enfraquece os pequenos agricultores, que são os grandes responsáveis pelo abastecimento de alimentos nas mesas de milhões de famílias brasileiras

A fome dispara em números em 2021, chegando a 19 milhões de famílias sem ter o que comer. A causa provém do desemprego e inflação que a pandemia do COVID-19 causou, e os mais afetados pela falta de alimentos são pessoas em condições de pobreza extrema e pessoas que residem em áreas rurais. Pessoas empobrecidas, vivendo num país com uma das maiores biodiversidades do planeta, que até então sempre esbanjou qualidade e quantidade de comida, recorrem à compra de ossos, carcaças animais, embutidos e ultraprocessados para sobreviver.

Outra grave consequência causada pela escassez dos alimentos é a desnutrição. Uma alimentação balanceada para adultos, crianças e idosos precisa conter uma quantidade de proteína adequada, carboidratos e gordura para ser equilibrada e balanceada. Uma pesquisa realizada pela Unicef consta que 49% da população brasileira com 18 anos ou mais mudou os hábitos alimentares e uma em cada 5 pessoas dessa faixa etária não tinha recursos para comprar comida. 

 

Transporte

A forma como o transporte coletivo e individual avança pelo pais é muito alinhado ao compromisso sustentável e tecnológico. Os acordos feitos para redução da emissão de CO2 impactam diretamente em quais meios de transporte o governo financiará. A aposta é que nesta cúpula o transporte movido a energia limpa seja uma das demandas mais urgentes.

Importante ressaltar que não adianta investir em transporte movido a energia limpa, é preciso fomentar a popularização desses veículos. Não adianta investir nessas tecnologias e continuar privando o acesso para pessoas ricas.

 

A conta de luz

A chamada crise hídrica, tomando o exemplo do Brasil, é mais frequente do que antes. Além das causas relacionadas à gestão ambiental – mal feita – que deveria garantir tanto o abastecimento de água à população quanto a manutenção de ecossistemas e agricultura, temos a alteração no regime de chuvas, decorrente especialmente do desmatamento na Amazônia. Isso dificulta a formação de nuvens em direção às outras regiões brasileiras, afetando desta forma Sudeste, Centro-Oeste e Sul. Somando-se aos efeitos do aquecimento global, o padrão de uso e ocupação dos territórios se tornam ainda mais desafiadores. A crise hídrica ainda é um retroalimentador do problema ambiental, uma vez que com a escassez das chuvas, o governo aciona o uso de energia ainda mais cara – e perniciosa ao ambiente, no caso as termelétricas, a base de fósseis, aumentando as emissões brasileiras.

Nesta 26ª conferência, o financiamento para fontes renováveis de energia é uma das principais pautas a serem discutidas. Sistemas de energia solar, eólica, geotérmica, maremotriz, de biomassa e hidráulica são as grandes apostas para a substituição da matriz energética das nações industrializadas, por mais que ainda apresentem certa resistência pelo alto valor de investimento. Esses sistemas de energia limpa prometem para além da redução da emissão de CO2, como também no preço da conta de luz que chega à população.

 

‘Ponto de não retorno’

O ponto de inflexão (tipping points) tem trazido uma preocupação extra e podemos considerar como um dos elementos para que a mudança climática esteja mais recentemente (2019) sendo chamada “emergência climática”. Em relação à floresta amazônica, as previsões não são tranquilizadoras. “Se chegarmos a esse ponto, aumentará a duração da estação seca e a temperatura da floresta. A partir daí, as árvores começarão a morrer de maneira acelerada, e isso criará um ciclo vicioso. O que era floresta tropical ficará parecido com o cerrado brasileiro, mas como uma espécie de savana pobre, sem a rica biodiversidade do cerrado”, disse Carlos Nobre, climatologista do Instituto de Estudos Avançados da USP à BBC News Brasil. 

Além disso, ainda de acordo com a explicação do cientista brasileiro Carlos Nobre (membro do IPCC), em depoimento no Supremo Tribunal Federal (em setembro de 2020), pautado pela  paralisação do Fundo Clima pelo governo Bolsonaro, entende que estão relacionados ao não-retorno, o incremento de eventos extremos e da mortalidade de árvores, com estações mais secas, impactando na redução da reciclagem da água e da filtragem de carbono. Ou seja, essa seria uma lista básica de problemas da atualidade que devem ser enfrentados para prevenir que o pior cenário em relação à floresta se estabeleça no Brasil. 

 

Povos nativos morrem

O povo originário é quem mais sofre com as mudanças climáticas. É preciso ter conhecimento de que negligenciar crise climática agrava violação dos direitos humanos e injustiças sociais e de que 2020 foi um ano trágico para os indígenas: conflitos por direitos territoriais cresceram 174%.

A luta por demarcação de terra Indígena é uma luta em proteção ao meio ambiente. Com o princípio de cuidar da Mãe Terra, a população nativa tem direito a terras negado. Precisamos colocar na das mudanças climáticas a urgência da demarcação de terras indígenas para preservação de sua cultura e filosofia. 

Considerando a importância da pauta em debate na conferência e as consequências que as ações definidas nela podem trazer à humanidade, é necessário que as autoridades que atuam como agentes do sistema internacional se posicionem de forma assertiva e clara. Já não há mais tempo para discursos rasos e soluções superficiais.

As grandes potências possuem um papel fundamental por serem quem financia projetos em países em desenvolvimento. Nosso papel, ao compreender a urgência do assunto, é cobrar que os representantes dessas nações que detêm grande influência tomem as medidas necessárias. Enquanto os grandes líderes não demonstrarem proatividade em visar e solucionar os problemas em vigência, as mudanças não acontecerão.

 

*@MidiaNinja e a @CasaNinjaAmazonia realizam cobertura especial da COP26. Com a edição da EcoAgência.

 

 

 

 

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Autorizada a reprodução, citando-se a fonte.
 
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