A entrega da Declaração contrária ao eventual acordo de cooperação de tecnologia nuclear entre Brasil e Japão ocorreu nessa sexta, dia 13, em cinco capitais estaduais e Brasília. Em Curitiba e em São Paulo houve maior receptividade nos Consulados japoneses, já em Recife, Salvador e Brasília, os representantes das entidades signatárias mal tiveram a oportunidade de deixar o documento na portaria dos prédios. Em comum, todos os consulados tinham a ordem de não protocolar nenhum papel nem permitir que fossem feitas imagens. A Declaração é uma iniciativa da Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares e possui as assinaturas de 114 organizações da sociedade civil japonesa, 107 organizações brasileiras e 32 Prêmios Nobel Alternativo.
Em Curitiba, após muito esforço, conseguiram que fosse feito um carimbo vermelho do consulado na segunda via da Declaração entregue. Em São Paulo, uma funcionária do Consulado recebeu o grupo de representantes das entidades com a informação de que somente duas pessoas seriam recebidas pelo consul, mas como havia duas cidadãs japonesas na mobilização - uma das fundadoras da Associação de Sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki e uma jovem brasileira que já viveu no Japão e tem a família naquele país - as quatro pessoas acabaram sendo autorizadas. O relato dá conta que o consul aceitou a Declaração, viu as assinaturas e afirmou que faria o encaminhamento ao governo japonês. Além desta visita, a mobilização em São Paulo ocorreu na Av. Paulista em frente à Gazeta, onde foram abertos banners e se juntaram cerca de 20 pessoas, muitas com camisetas amarelas onde estava escrito "Xô Nuclear", vários japoneses, dois jornalistas do Asahi-Shimbun e São Paulo Shimbun. Foram distribuídos folhetos informativos e feita a
coleta de assinaturas para a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que propõe vedar as usinas nucleares para produzir energia elétrica no Brasil.
Em Recife e em Salvador, a Declaração ficou na portaria dos prédios para ser entregue aos respectivos Consulados. Já em Porto Alegre, a situação foi intermediária, ou seja, uma funcionária do Consulado dirigiu-se até o portão e ali ouviu a apresentação do documento com a justificativa e as assinaturas das entidades apoiadoras. Ela recebeu o documento e confirmou com um sinal de cabeça que entregaria ao vice-consul já que o consul está em férias no Japão. Visando garantir a tomada de conhecimento da Declaração, o Núcleo de Ecojornalistas enviou o documento pelo correio com aviso de recebimento.
Prêmios Nobel Alternativo
A adesão de 32 Prêmios Nobel Alternativo se deve a iniciativa de Francisco "Chico" Whitaker Ferreira, figura chave do Fórum Social Mundial, premiado com o Right Livelihood ("correto modo de vida") Award em 2006 por seu trabalho em promover a justiça social e o fortalecimento da democracia. Após informações nos meios de comunicação sobre um acordo entre governos que estaria sendo preparado para exportar tecnologia nuclear do Japão para o Brasil, Chico Whitaker, membro da Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares, recolheu assinaturas de mais de 200 organizações de ambos os países que se opõem a este acordo.
"O reator de Fukushima Daiichi está liberando radioatividade no meio ambiente e o governo japonês não consegue controlar essa contaminação. O Japão está causando sérios danos para o mundo. Em tal situação, como pode o governo brasileiro apoiar a construção de usinas nucleares japonesas?", questiona Whitaker.
“No Brasil cresce o temor de acidentes nas usinas nucleares de Angra dos Reis, localizadas entre as duas maiores cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo. Ao mesmo tempo, cresce a pressão para que se passe a usar fontes de energia menos perigosas para atender às necessidades do país em eletricidade", diz o texto da Declaração.
A data de entrega do documento coincidiu com o 26°aniversário do acidente radiológico de Goiânia (GO), o mais grave na história do Brasil, onde uma quantidade mínima de material radioativo, o césio 137, causou a morte de quatro pessoas e afetou outras 249. Em 13 de setembro de 1987, um aparelho de radioterapia, contendo uma cápsula de césio 137, foi deixado numa clinica abandonada e levado por catadores a um ferro velho. Uma vez o aparelho desmontado, grande número de pessoas tomaram contato e se contaminaram com o césio 137. Também se contaminaram solos, colheitas, animais domésticos e casas.
Em julho passado, Whitaker propôs o documento "Por uma América Latina e Caribe livres de centrais nucleares”, assinado na Primeira Reunião Regional de laureados do Right Livelihood Award em Bogotá. Nessa mesma data dezenas de premiados do Nobel Alternativo e Conselheiros do Conselho Mundial do Futuro condenaram os planos de expansão nuclear mundial.
Difusão
Chico Whitaker tem viajado pelos estados brasileiros buscando articular representantes regionais da Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares. Ele que esteve em Porto Alegre neste domingo (15), onde participou de reunião na véspera de construção do Fórum Social Temático que acontece na capital gaúcha em janeiro de 2014, retorna no dia 23 de setembro para além deste compromisso, se reunir com os ecologistas do Rio Grande do Sul para reforçar a importância também desta pauta. "Há muita desinformação sobre energia nuclear e insanidade por partes daqueles que defendem o uso desta tecnologia. Precisamos levar as informações a todos os públicos que pudermos," disse. As entidades gaúchas signatárias da Declaração contrária ao acordo de cooperação nuclear Brasil e Japão são: Fundação Gaia - Legado Lutzenberger (Right Livelihood Award em 1988); Associação Mira-Serra; IGRE (Associação Socio Ambientalista); InGá (Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais); Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente (MoGDeMA); União Protetora do Ambiente Natural (UPAN); Núcleo Amigos da Terra/Brasil; Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ – RS).
Ler a Declaração e as listas de signatários
Folheto para difundir a Declaração "Somos contrários ao acordo de tecnologia nuclear entre o Japão e o Brasil"