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Mudanças Climáticas

Sábado, 04 de Fevereiro de 2012

 
     

A retórica do conflito

  

Autores questionam supostas inconsistências no discurso hegemônico do IPCC sobre mudanças climáticas. A publicação rendeu quase três mil comentários na internet.

  

IPCC    


Por Henrique Kugler - Ciência Hoje On-Line

No debate inflamado das mudanças climáticas, o ano começou quente. Semana passada, um grupo de 16 cientistas publicou no The Wall Street Journal um texto provocador: No need to panic about global warming (em tradução livre, algo como ‘Sem pânico em relação ao aquecimento global’). Com impertinentes alfinetadas, os autores questionam supostas inconsistências no discurso hegemônico do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). A publicação rendeu quase três mil comentários. E obviamente despertou a ira de alguns.

Não deu outra: três dias depois, lá estava a réplica: ‘Check with climate scientists for views on climate’ (em tradução mais livre ainda: ‘Se quiser saber sobre o clima, pergunte a quem realmente conhece’, dando a entender que o texto anterior fora escrito por incautos pesquisadores que pouco dominam as ciências climáticas). Pois é, a discussão não é novidade – para alguns, aliás, já está fora de moda. Mas o embate retórico continua. E, de ambos os lados, vale checar a atualização dos principais argumentos que oxigenam tamanha contenda.

Hereges incompreendidos

Segundo os autores do texto incendiário, o que aumenta a cada ano não é necessariamente a temperatura da Terra; mas sim o número de cientistas ‘heréticos’ que desacredita a tese hegemônica do IPCC. Por mais que muitos cientistas tenham sérias dúvidas quanto ao aquecimento global, eles nem sempre se manifestam com veemência – temendo eventuais represálias de ordem institucional ou política.

“E eles têm boas razões que justificam esse temor”, garantem os 16 signatários do texto, lembrando do caso emblemático de Chris de Freitas, ex-editor do periódico alemão Climate Research. Em 2003, ele aprovou a publicação do polêmico artigo de Willie Soon e Sallie Baliunas, devidamente revisado por pares, apresentando indícios de que, em relação ao último milênio, não há nada de incomum com o clima do século 20.

Sua carreira não foi exatamente arruinada por isso. Mas vários colegas iniciaram uma campanha para excluí-lo dos quadros do periódico – ofensiva que foi bem-sucedida. O caso ficou conhecido como A controvérsia Soon e Baliunas. Mas, causos à parte, a essência do texto é de ordem supostamente técnica. Aumento da temperatura é uma coisa; causalidade antrópica é outra. “Não há argumentos científicos contundentes que justifiquem a ‘descarbonização’ de nossa economia”, insistem os autores, questionando a tese do CO2 como grande vilão do clima.

Segundo eles, o fato mais inconveniente é que, na última década, as medições não confirmaram o que estava previsto nos catastróficos modelos do IPCC. “Diante do embaraço, os alarmistas mudaram seu discurso de ‘aquecimento’ para ‘aumento dos eventos extremos’, atribuindo automaticamente ao CO2 a culpa por qualquer anormalidade climática.” E, para tirar o sono de alguns, os autores voltam a mencionar o empecilho fundamental que, para eles, nunca foi inteiramente esclarecido. Como os modelos climáticos do IPCC tratam o vapor d’água e a nebulosidade?

Segundo os autores, são variáveis decisivas para a regulação térmica do planeta, muito mais relevantes do que a influência mínima do CO2. Entretanto, é praticamente impossível incluí-las de forma acurada nos cálculos.

A réplica

Em tom debochado, a resposta aos hereges foi bastante econômica: seis parágrafos, contra 14. Não entraram em grandes detalhes, mas a retórica foi eficaz. “Você iria ao dentista para resolver um problema de coração?”, ironizam. Segundo eles, a ‘acusação’ foi elaborada por pesquisadores não diretamente envolvidos com estudos avançados em clima.

“Observações mostram inequivocamente que a última década foi a mais quente já registrada”, reafirmam. “A Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, assim como as maiores instituições científicas ao redor do mundo, endossam que a ciência é clara: o mundo está esquentando e os humanos são responsáveis. (...) Minimizar os impactos demandará redução significativa nas emissões de gases-estufa.” E, para finalizar, escrevem que mais de 97% dos cientistas ativos no campo concordam com a ideia.

E quanto ao maior regulador térmico do planeta – o vapor d’água – e a nebulosidade? Nada foi mencionado.

Próximo assalto

As manifestações na internet foram imediatas. Um arqueólogo de Harvard, Greg Laden, não perdeu tempo: em post bastante ácido, disparou argumentos contra os 16 autores da publicação que desencadeou o debate, acusando-os de estarem vinculados aos interesses da indústria dos combustíveis fósseis.

Quem contribuiu mesmo para algum esclarecimento foi Andrew Revkin, jornalista do The New York Times. Em seu blogue, publicou as respostas de outros dois pesquisadores de prestígio que se dispuseram a comentar o episódio – dando continuidade ao debate lúcido que o tema merece.

A querela acontece num momento político nada inocente. Em tempos de eleição nos Estados Unidos, não há candidato que não seja emparedado pela pergunta fatídica: “afinal, o que você pretende fazer em relação às mudanças climáticas?”. O impasse continua, e os mesmos argumentos surrados – de ambos os lados – ainda não saíram de cena.

 

Ciência Hoje On-Line/EcoAgência

  
  
  
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Autorizada a reprodução, citando-se a fonte.
 
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