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Povos indígenas

Sexta-feira, 07 de Maio de 2021

 
     

Os sentidos da água e dos recursos a partir das retomadas indígenas

  

Provocações à sociedade a uma retomada pelos valores mais significativos à conservação da vida, no contexto da pandemia e mudança climática

  

Captura de tela no Youtube da Ação Paramita    


Por Eliege Fante - especial para a EcoAgência

São muitas as ideias de “retomadas” circulando na sociedade e as da economia, da indústria, da normalidade e das aulas presenciais estão entre as mais frequentes nas mídias hegemônicas. Com a mobilização nacional “Abril Indígena”, fomos aproximados à ideia de uma retomada cujo sentido nos impulsiona à reflexão sobre a ordem das coisas na nossa estrutura social cotidiana.

Nessa semana, na Ação Paramita, um meio de comunicação social independente, e para falar de “Auto-organização e retomadas indígenas”, o cacique André Benites, da Retomada em Maquiné ou Aldeia Tekoà Ka Aguy Porá (Mata Sagrada), explicou que “antes do estado se adonar”, ou seja, constituir a Estação Experimental de Maquiné ainda antes da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), a qual acabou extinta pelo Governo Sartori (MDB) em 2018, aquele território já tinha um pertencimento. “Este território não é do estado e nunca será dele, porque o que nós temos neste mundo não é de ninguém, esta terra é do criador; não posso dizer que esta terra é minha (sentido privado), porque ela é nossa, é de cada ser que existe no mundo, seja guarani ou outro, seja não-indígena, seja animal, seja água, tudo foi criado para estar aqui nesta terra. Esta é a visão que nós temos e que sempre tentamos explicar o porquê nossa visão é diferente,” fundamentou o cacique. A partir dessa outra ordem estrutural, fica mais acessível compreendermos quando afirmam que a luta indígena inclui a humanidade, os não-indígenas, a coletividade. “Inclusive, lutamos por aqueles que pretendem eliminar nossa tradição; tem político que quer apagar nossa imagem, nossa identidade, mesmo assim nós lutamos por ele também, pela melhora para ele, para o filho dele, nossa luta é para manter a natureza como foi feita e, assim, manter o mundo para a gente viver,” completou.

A ordem das coisas como colocada por Benites reorganiza aquele espaço, o território em Maquiné, como o de retomada das condições para a vida, da alegria e, principalmente, ele mesmo destacou, “da nossa saúde”. Condições essas que foram tomadas dos povos indígenas com a chegada (segundo nossa formação escolar) ou invasão dos colonizadores europeus sob o discurso de “descoberta”. “A gente ficou como se fosse sem nada, tentávamos fugir dos não-indígenas enquanto tivemos espaço para isso, mesmo sabendo que o território era nosso, mas porque não queríamos briga, porque nossa nação é pacífica, é de conversar, e assim fomos perdendo nossos territórios. Hoje tem muita família sofrendo na beira da estrada, sem casa, sem água,” disse.

Em acordo, Rebeca Menezes, que é Kariri, um dos povos no Ceará, complementou a amplitude do processo em que se constituem as retomadas indígenas. “Tem a ver com muitos aspectos da nossa vida, é o território que permite o modo de vida, o modo de articulação no mundo mesmo, porque a vida no território articula todas as relações com a natureza e com todos os outros núcleos fora do Território Indígena.” Esse modo de vida, como Rebeca reforçou, se constitui de uma forma de pensar a cultura e a espiritualidade que vê o mundo para todos os seres usufruírem.

Assim como Benites, Rebeca responde àqueles que querem saber por que os indígenas se encontram no meio urbano: “As cidades nos alcançaram, nos engoliram, não tivemos a opção de não estar nesses espaços”. Ela, que é ativista dos movimentos indígena e feminista, assistente social e difusora de literatura indígena, relacionou a colonização à expropriação dos territórios indígenas e consequente dispersão dos povos. “Desde a Constituição de 1988, buscamos materializar o nosso direito originário ali reconhecido, mas este direito só atende aqueles que se reconhecem como indígenas, enquanto o sertanejo, o pardo, o trabalhador que também é indígena, não tem direito a nada,” explicou sobre a importância da identificação e reconexão com as origens e o fortalecimento das lutas de todos os povos.

As retomadas indígenas, conforme Rebeca e Benites relembraram, acontecem desde sempre, com outros nomes como demarcação, ocupação tradicional e autodemarcação, já que o tensionamento é constante com o latifúndio, o grande empresariado e o estado. A principal reivindicação dos povos indígenas, sem dúvida, pode conduzir a nossa sociedade a uma retomada pelos valores mais significativos à conservação da vida, no contexto da pandemia e mudança climática: “Queremos ser respeitados, porque nunca fomos respeitados como queremos e como precisamos. Por exemplo, existem recursos neste mundo; a água é recurso, mas para a vida, não para o lucro. Juruá (pessoa não-indígena) fala nisso pensando em dinheiro, nós pensamos para nossa vida. Para juruá, se não tiver água ou madeira, não há dinheiro. Mas para nós é diferente porque, se não tiver árvore, não há abelha, não há a fruta que precisamos para viver.”

 

Para acompanhar as retomadas no RS:

Retomada em Maquiné

Retomada em Canela

Retomada em São Francisco de Paula

Retomada Ponta do Arado em Porto Alegre

Retomada no Lami em Porto Alegre

EcoAgência

  
  
  
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