Esta segunda, 3 de julho de 2023, recebeu o título de “dia mais quente da história”, de acordo com as medições da temperatura média global realizadas desde 1979 pelos Centros Nacionais de Previsão Ambiental dos Estados Unidos. Diversos veículos do Brasil e do Exterior, repercutiram o ineditismo, explicando se tratar de um efeito direto das mudanças climáticas e do El Niño, fenômeno que provoca o aquecimento do Oceano Pacífico e influencia eventos como chuvas, ventos e oscilações de temperatura em todo o planeta.
O triste recorde, no entanto, foi superado na terça-feira, dia 4, quando o planeta alcançou a temperatura média de 17,18°C, ultrapassando os 17,01°C do dia anterior. A notícia do portal g1 publicada em 5 de julho destacou o derretimento de gelo no Ártico por conta do calor e foi um dos artigos mais lidos do dia, dividindo o Top 5 com o noticiário de entretenimento e polícia.
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O crescente interesse do público pela temática corresponde à percepção cotidiana de que o clima do planeta está cada vez mais diferente – e imprevisível. Publicada no mês passado, pesquisa do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) Rio e Ipec Inteligência atesta que 86% da população brasileira relaciona o aquecimento global com a maior ocorrência de desastres ambientais, como noticiou a coluna Pensar a Cidade, do Jornal do Comércio.
De fato, de Norte a Sul, os efeitos das mudanças climáticas se intensificam e ganham destaque nos jornais. Amazônia e Cerrado registraram, no mês de junho, o maior número de queimadas em 16 anos, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Isso em plena estação de chuvas no Norte do país, como observa matéria do Estadão. Enquanto isso, o Rio Grande do Sul, que ainda nem se recuperou do ciclone extratropical ocorrido no dia 16 de junho, deve ser atingido por outro evento semelhante, ainda que de proporções menores, nesta semana, relata GZH.
A população já percebe a conexão entre eventos climáticos extremos com as mudanças globais do clima descritas pela comunidade científica. O jornalismo já aborda as constatações sobre as alterações climáticas reconhecendo seu valor noticioso. O que mais fazer então para mobilizar a sociedade rumo à adaptação e à mitigação desses efeitos? Como descrito anteriormente nesse Observatório, políticas públicas de enfrentamento às mudanças climáticas ainda não são devidamente abordadas pelo jornalismo, que pode assumir seu compromisso com o interesse público ao cobrar posicionamento dos gestores de todas as esferas do poder.
*Texto produzido no âmbito do projeto de extensão "Observatório de Jornalismo Ambiental" por integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS). A republicação é uma parceria com o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS). Débora Gallas é jornalista, doutora em Comunicação e Informação, integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS).