Já se passaram 30 anos desde que soaram os primeiros alarmes sobre osperigos para nosso país apresentados pela poluição produzida pelausina termelétrica "Presidente Médici", localizada no município deCandiota, a apenas 40 quilômetros da fronteira do departamento de Cerro Largo, no Uruguai. Esta planta é usada para gerar eletricidade a partir do calor liberado pela queima de carvão mineral, que é convertido em eletricidade por meio de alternadores.
Esta é a pior opção para geração de energia elétrica disponível, porque emite grandes quantidades de dióxido de carbono (o gás de efeito estufa que mais provoca o aquecimento global), partículas em suspensão, óxidos de enxofre (um dos responsáveis pela "chuva ácida") e de nitrogênio, assim como resíduos de metais pesados, para a atmosfera. Um coquetel muito pernicioso para a saúde ambiental e humana, e responsável pelo aumento do aquecimento global.
Porque se escolhe esse caminho? Fácil. Porque são centrais de construção barata, devido à simplicidade de seu equipamento, em
comparação com as outras alternativas. No entanto, seus custos seriam inviáveis se lhes fosse exigido o estrito cumprimento das disposições ambientais vigentes nos países.
O que queremos dizer é que, como em muitas outras áreas, desde a própria consideração da viabilidade econômica desses empreendimentos em sua etapa de concepção, se o valor da aplicação rigorosa de todas as medidas de mitigação de contaminação (tecnologia, prevenção, etc.) e de reparação ambiental e sanitária fosse calculado, ficaria evidente que é antieconômico. O custo de produção por quilowatt será muito maior do que o de outras opções.
Portanto, existe uma conivência entre as autoridades – e até da sociedade civil – que permite a execução destes péssimos projetos.
O grave perigo da contaminação atmosférica de Candiota não se circunscreve à planta, mas que viaja muitos quilômetros ao redor,
impulsionada pelo capricho dos ventos e favorecida pela grande altura de suas chaminés.
As populações locais têm tido que se acostumar a lidar com as doenças respiratórias crônicas. Todos sabem quais são as causas, mas a preguiça irresponsável das autoridades locais e estaduais segue permitindo uma deterioração da saúde pública que pode ser evitada perfeitamente.
Semanas atrás o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) do Brasil multou em cerca de 25 milhões de dólares e mandou suspender as operações de Candiota, já que esta não tem cumprido com uma série de exigências técnicas para reduzir suas emissões poluentes. Mas alguns dias atrás a Justiça Federal suspendeu a medida, contanto que a usina cumpra dez medidas dispostas por ela. Um assunto que nunca acabará.
Uma sociedade racional e madura deveria ver com clareza que não se deve levar a sério as matrizes energéticas que não sejam renováveis e sadias para o ambiente. Quanto antes possível, devemos descartá-las. Se pensarmos cuidadosamente concluiremos que não é uma moda, senão uma necessidade elementar para defender a qualidade vida das pessoas.
Artigo publicado no jornal El País de Montevidéu, em 28.09.2016.
Tradução: Guilherme Felipe Hidalgo Caumo.