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Segunda-feira, 05 de Maio de 2014
  
O Maior Problema da Biodiversidade no Pampa

Por que até o hoje o MAPA e a SEAPA não buscam ativamente construir uma política para o Pampa baseada na biodiversidade? Por que esta discussão permanece restrita aos órgão ambientais, núcleos acadêmicos e algumas entidades ambientalistas? Ou será que MMA e a SEMA é que devem procurar as organizações que tratam da política agropecuária?

  
Por Eduardo Vélez
  

As duas maiores crises ambientais globais que a humanidade se defronta na atualidade são as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade. Precisamos, portanto, pensar globalmente e agir localmente. No caso da biodiversidade, é necessário ter o entendimento de que se trata de um tema eminentemente ligado à zona rural. Logo, para discutir a biodiversidade de forma estruturante e sistêmica é preciso discutir como estamos fazendo a ocupação e uso do território nas zonas rurais. Esse é o ponto!

Na Amazônia, as florestas são a matriz ambiental daquela região. Logo, sua vocação é o uso sustentável da floresta. Produção e desenvolvimento com a floresta em pé é o que se pretende. A agricultura e a pecuária tem espaço mas a meta é manter paisagens em que predominam as florestas. Isto é a sustentabilidade ambiental.

No Pampa, os campos são o ecossistema principal. As florestas também ocorrem, mas em pequena proporção. Logo, nosso desafio aqui é manter o campo nativo em pé. A vocação econômica verdadeiramente sustentável no Pampa são as atividades pastoris. A pecuária praticada sobre campo nativo pode garantir, ao mesmo tempo, desenvolvimento econômico, social e conservação da natureza. A agricultura e a silvicultura são importantes, por que uma economia diversificada é algo saudável, mas não podem avançar a ponto de eliminar os campos. Se queremos sustentabilidade ambiental, os campos deveriam predominar nas paisagens. Em todas as regiões do Pampa.

Nos campos nativos, além da produção de forragem para o gado, que gera renda e emprego, sem necessidade de semeaduras anuais e o uso intenso de insumos, está a biodiversidade (milhares de plantas e animais) – gramíneas, ciperáceas, compostas e leguminosas, e diversos outros grupos de plantas nativas de grande valor forrageiro; tatus, besouros, mariposas, formigas, aranhas, emas e seriemas, anfíbios, zorrilhos, furões, e tantos outros bichos que interagem e no conjunto movem a engrenagem da natureza, que presta serviços ambientais fundamentais: ciclagem de nutrientes, a produção e conservação de solos, a infiltração de água no solo, a captação de carbono da atmosfera, a presença de polinizadores entre tantos outros.

Não se trata de transformar o Pampa num zoológico ou numa grande reserva ecológica. Mas de produzir conservando, com gente e com manejo da biodiversidade. Sobretudo, com manejo dos campos nativos. Parece bastante óbvio que a vocação do Pampa é a produção de gado de corte, a produção de carne. Deveríamos ser um pólo nacional de produção de gado de corte, buscando diferenciação no mercado justamente porque é a atividade econômica que gera renda sem destruir a natureza. Estudos feitos aqui no RS têm demonstrado que pode gerar uma ótima renda para pequenos, médios e grandes. A agricultura e a silvicultura dependem da supressão completa dos campos, a pecuária não.

Óbvio que há gargalos para que a pecuária seja mais competitiva. Deveríamos estar debruçados em como resolvê-los. E também em como valorizar os serviços ambientais associados que beneficiam toda a sociedade, e incluí-los na conta dos rendimentos. Infelizmente estamos no caminho oposto. Nos últimos anos a soja tem avançado de forma impressionante sobre os remanescentes campestres do Pampa e temos assistido, impotentes, a esse fenômeno.

Há uma visão dominante em curso de que o modelo da metade norte do RS deve ser aplicado na metade sul. Ou seja, paisagens agrícolas homogêneas como sendo a grande solução para o desenvolvimento. E a biodiversidade? Bem....sempre sobra alguma “tirinha” de mato para que os ambientalistas não reclamem...

O fato é que o tema da biodiversidade não consegue sair do isolamento político. Em todo o espectro ideológico, da direita à esquerda. Temos que destacar iniciativas nessa direção como os projetos Alianza del Pastizal e o RS Biodiversidade, ou ainda iniciativas dos produtores como a experiência da APROPAMPA, ou da Embrapa Pecuária Sul no Alto Camaquã. Mas ainda permanece uma flagrante desproporção frente ao avanço da agricultura. É preciso dar escala a estes projetos e para isso precisamos de política públicas e privadas com foco na sustentabilidade ambiental.

O grande desafio é este. Como fazer que este discurso seja incorporado pelos órgãos públicos e pelas entidades do agronegócio, ou seja, que a biodiversidade seja efetivamente incorporada na origem das políticas de desenvolvimento.

O Pampa que hoje agoniza em muitas regiões, clama por limites para a agricultura e por incentivos para a pecuária em campo nativo. Por que até o hoje o MAPA e a SEAPA não buscam ativamente construir uma política para o Pampa baseada na biodiversidade? Por que esta discussão permanece restrita aos órgão ambientais, núcleos acadêmicos e algumas entidades ambientalistas? Ou será que MMA e a SEMA é que devem procurar as organizações que tratam da política agropecuária? O fato é que estas pontes devem ser construídas de algum modo. E isso é urgente.

Sem isso não seremos capazes de dar conta da Metas de Aichi, estabelecidas pela Convenção sobre Diversidade Biológica, especialmente aquelas vinculadas ao objetivo estratégico A: Tratar das causas fundamentais de perda da biodiversidade, abordando o tema junto ao governo e sociedade e ao objetivo estratégico B: Reduzir as pressões diretas sobre a biodiversidade e promover o uso sustentável.

Quando nos mobilizamos é possível reverter algumas tragédias ambientais. Na Amazônia, há bem poucos anos a supressão da biodiversidade conseguiu ser estancada. Teremos capacidade de fazer o mesmo no Pampa?

  
             
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