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Domingo, 27 de Novembro de 2011
  
Meio ambiente, consumo e lixo eletrônico: antes que a Terra vire uma “e-mundícieâ€

“Pedi para os meus pais um I Pod Touch e um Blackberry porque todo mundo que eu conheço tem. Ganhei os dois. O Blackberry não durou muito: quebrou. Mas eu já ganhei outro...”

  
Por Antonio Carlos Teixeira *
  

 

A frase, dita por uma adolescente brasileira, revela o quanto ainda precisamos avançar na conscientização socioambiental não apenas entre os jovens do país, mas também entre pais, adultos, empresários, industriais, vendedores, marqueteiros, etc. Um dos pontos dessa busca maior pela mudança de hábitos em benefício do meio ambiente é justamente o grande calcanhar de Aquiles da questão ambiental: o consumo sem limites.

O Brasil está em primeiro lugar entres os países emergentes que mais geram resíduos sólidos provenientes de aparelhos eletrônicos usados, como computadores, celulares, tevês de alta definição, notebooks, smartphones, aparelhos de mp3, impressoras, escâneres e todo o tipo de acessórios que estão presentes no modo de vida contemporâneo. De acordo com o relatório “Recycling – From E-waste to Resources”, lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP, United Nations Environment Programme), o Brasil produz 0.5 kg per capita/ano (cerca de 95 mil toneladas), seguido bem de perto por México e China (ambos com 0.4 kg per capita/ano). Em termos globais, a sociedade humana está produzindo nada menos que 50 milhões de toneladas de “e-lixo” anuais. Só a União Europeia é responsável por 9 milhões de toneladas! Mas será que todos esses resíduos eletrônicos estão sendo gerados apenas pelo fato de que os aparelhos já esgotaram suas capacidades de utilização?

É bem provável que não. Talvez os componentes principais que estão motivando essa produção absurda de “e-resíduos” tenham mais a ver com educação, postura, impulso, consumismo, complexo de superioridade, de inferioridade, ansiedade, sensação de vazio...

 
No recente lançamento da nova versão de um famoso “tablet” no Brasil, os primeiros a adquirir o “gadget” – após permanecerem horas na fila de espera – já especulavam sobre a chegada do “número 3” e quais seriam as novidades do “brinquedinho”. Um dos consumidores obcecados, que mal acabara de adquirir o aparelho, chegou a declarar que era “muito sofrimento” saber que o seu novo passatempo estaria obsoleto em dez meses...
 
A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, sigla em inglês de Environmental Protection Agency) aponta que, das 3,1 milhões de toneladas de “e-waste” produzidas no país em 2008, apenas 14% (434 mil toneladas) foram destinadas à reciclagem. Isto significa que 2,6 mihões de toneladas foram parar em aterros sanitários, fornos incineradores ou em outros países, entre eles, Gana, Tanzânia, Vietnã, Malásia, Quênia, Haiti, Filipinas, Tailândia e... Brasil! Sim. Além de gerarmos nosso próprio lixo ainda “importamos” esse tipo de resíduo dos EUA. Já não bastam os nossos ainda temos que dar solução para o dos outros... Que desenvolvimento!
 
Mas os EUA não estão sozinhos nesse “negócio”. Países como Canadá, Japão, Austrália e Coréia do Sul “exportam” suas “e-sucatas” para nações pobres ou até para países emergentes, como a China. Já a Europa tem como “clientes” Nigéria, Rússia, Paquistão, Singapura, Ucrânia e Egito. Outro “BRIC”, a Índia, também figura entre países compradores de “e-cacarecos” vindos de Estados Unidos, Austrália e Europa.
 
Não vamos avançar e evoluir na questão ambiental planetária se continuarmos a mandar nosso lixo para a casa dos outros. Estamos apenas transferindo (e mal) o problema. Existem saídas para minimizar ou reduzir esses impactos. Duas delas: exercer a “Política dos 5 Rs” e estimular na nossa sociedade que cada fabricante seja responsável pelo tratamento e destinação dos resíduos eletrônicos dos seus aparelhos.
 
Nos 5 Rs, todas as ações dizem respeito à nossa postura enquanto
cidadãos que defendem uma mudança de comportamento em defesa da preservação e da conservação do meio ambiente e dos recursos naturais: reduzir (consumo), reutilizar (utensílios, embalagens), reciclar (resíduos), recusar (o que não é necessário) e repensar (nossas atitudes).
 
Ok, o apelo consumista contemporâneo é esmagador: somos levados a querer participar dos usos e frutos da sociedade, a ter os últimos lançamentos dos mais modernos aparelhos, a ostentar marcas internacionais, a provocar uma “invejinha” nos conhecidos... Mas, sinceramente, não dá para posar de ambientalista, de defensor da natureza, de preocupado com o aquecimento global se não exercemos os 5 Rs diariamente em nossas vidas. Ou pelo menos alguns deles.
 
Não dá para criticar o país A, B ou C por enviar seu lixo eletrônico para uma nação pobre ou miserável se nós mesmos não estamos nem aí para reduzir o nosso consumo. Todo aparelho eletrônico (como outro qualquer) tem um prazo de validade. Até porque o investimento que fizemos para adquiri-lo inclui os anos de vida útil previsto pela indústria, fábrica ou montadora responsável pela sua criação e/ou comercialização. Agora, se trocarmos “vida útil” por “desejo fútil” estamos declarando que discurso de conscientização ambiental só deve servir para “os outros”. Para mim não, violão!
 
Mas não basta apenas nós, consumidores, reduzirmos o consumo. É urgente que governos, empresas, fábricas e indústrias também entrem nessa corrente. Para reduzir os impactos das “e-bugigangas” no meio ambiente global, os cidadãos precisar ser esclarecidos sobre as melhores formas de descarte do seu aparelho. E a principal delas, sem dúvida, e a de retorno ao fabricante.
 
Indústrias e fabricantes são os agentes mais capacitados para realizar esse tipo de recolhimento. Têm know how para manuseio, pois conhecem seus componentes, sua composição (elementos químicos, metais preciosos, pesados...) e podem desmontar com mais propriedade aquilo que montaram.
 
Podem chamar como quiser: logística reversa, política de envio de aparelho usado, programa de reenvio de material... O mais importante é esclarecer a população, o consumidor, o cidadão. É uma questão de respeito (a quem investe na marca) e de responsabilidade (social, corporativa e socioambiental).
 
Para isso acontecer, é preciso ação, leis e normas. E aí entram em cena os nossos representantes no Executivo, no Legislativo e no Judiciário para criar, garantir e julgar legislação e normatização específica sobre o tema. Antecipações do setor produtivo nesse sentido são muito bem-vindas. Por exemplo: onde estão as campanhas publicitárias das empresas, das indústrias, dos fabricantes? Alô vice-presidências, diretorias, gerências, e profissionais de marketing e de comunicação! Onde estão os programas de orientação ao consumidor? Nas lojas, na tevê, na internet, nos jornais e na mídia em geral só se veem os produtos (dezenas deles!), nunca esclarecimentos sobre o que fazer com os aparelhos numa situação de descarte.
 
Não podemos permitir que essas “e-xepas” acabem em aterros sanitários, lixões a céu aberto ou até mesmo em matas, florestas, estuários, rios, praias e no fundo de mares e oceanos. Chega de poluição.
 
Antes que o planeta vire uma “e-mundície”.

Mais informações:
antoniocarlosteixeiraact@nym.hush.com
www.terragaia.wordpress.com
 

* Jornalista e consultor de comunicação, meio ambiente e sustentabilidade.
 

  
             
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Autorizada a reprodução, citando-se a fonte.
           
 
 
  
  
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