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Sexta-feira, 22 de Novembro de 2013
  
O maior tufão não comove os gerentes do establishment planetário

O megatufão Haiyan, que atingiu as Filipinas no dia 8 de novembro último, já é considerado o pior tufão que se conhece até hoje, fora dos oceanos. Mais de 4 mil mortos, mais de 1,3 mil desaparecidos e milhões de filipinos sem casa.

  
Por Paulo Brack
  

As mudanças climáticas são praticamente fenômenos inequívocos, ligados à elevação da liberação dos gases de efeito estufa (GEE), como CO2, CH4, NO2, etc.. O quinto relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), lançado recentemente, atenta para isso. Outros eventos, como o derretimento do gelo do mar Ártico, as ondas de calor nos EUA, na Rússia e na Austrália, as chuvas torrenciais que assolaram, há dois anos, a região serrana do Rio de Janeiro, ou as secas crescentes na Amazônia - que podem reduzi-la para 30% de sua área até o final do século – não são mais fatos isolados. Os prognósticos, mais pessimistas, que previam a subida de até 2 graus Celsius, na temperatura média da atmosfera até o final do século, já são superados pelo valor de 3,6 graus. As consequências disso são assustadoras e inimagináveis!

Sabemos que, no momento, a necessidade urgente é de ajuda e solidariedade aos nossos irmãos filipinos, que passam fome e sede. Entretanto, não se vê a criação de iniciativas de alcance por aqui., infelizmente. E, de outra parte, se nada for feito em relação às mudanças climáticas, como vem acontecendo no mundo (volta do uso do carvão mineral, busca do gás do xisto, etc.) e no Brasil (liberação do carvão mineral no leilão das térmicas, apologia do pré sal e o incremento de hidrelétricas, que são responsáveis pela liberação de GEE, como o metano), situações piores não serão mais surpresa. Os alertas são crescentes, há muitos anos, e quase nada é feito, além dos retóricos discursos de representantes de órgãos multilaterais ou governamentais em conferências do clima. 

A conferência das partes sobre o clima (Cop 19), que ocorreu em Varsóvia, na Polônia, no meio deste novembro, está a demonstrar mais um fracasso previsível em suas negociações. E se tornou mais uma oportunidade para os representantes de mais de 190 governos (gerentes e subgerentes do establishment da lógica dos combustíveis fósseis e dos crescimento econômico) trazerem soluções cosméticas, para tocar com a barriga a situação para novos acordos só a partir da COP 20, em 2014 (Peru). Curiosamente, para não dizer cinicamente, na mesma semana da abertura da COP 19, na mesma Polônia, foi sediada a Cúpula Mundial do Carvão, que contou com a polêmica presença da secretária executiva da COP do clima, Christiana Figueres, enredada nos gigantescos interesses dos setores do petróleo e carvão.

Mesmo com a declaração recente do próprio secretário da ONU, Ban Ki-Moon, após o ocorrido nas Filipinas, admitindo que "ainda há gente na Terra que parece acreditar que temos dois planetas", infelizmente, a retórica parece não surtir efeitos práticos.

Tampouco adiantou o representante da delegação das Filipinas,Yeb Sano, fazer greve de fome, junto com outros ativistas durante a conferência, para pedir soluções urgentes a esses problemas. De forma recorrente, os resultados das negociações climáticas são pífios, as metas são tímidas, para não dizer vergonhosas. Os compromissos a serem adotados "pra valer” serão adiados, quem sabe. para as décadas seguintes.

Na Polônia, como resultado, na prática, é a sacramentação da volta dos combustíveis fósseis, com os devidos “cuidados”. E estes combustíveis são, mais uma vez, o “remédio” usual para o enfrentamento da chamada crise econômico-financeira que se abateu, desde 2008, principalmente sobre países da Europa e os EUA. Crises assim acabam se tornando oportunidades, como um balão de ensaios de um cardápio inumerável de retrocessos, inerentes ao fundamentalismo econômico dos dias atuais. Retomar o velho crescimento econômico segue sendo a palavra de ordem, substituída agora (pós-Rio +20) pelo conceito, sem nenhuma fundamentação, de “crescimento sustentável”. Mas, será que avisaram os comandantes do establishment econômico mundial (G8 ou G20), que nosso planeta é finito?

Vivemos, sim, uma esquizofrenia política dos tempos pós-modernos. Situações socioambientais calamitosas, como este recente e devastador tufão, com destaques dados pelos grandes meios de comunicação, por alguns dias, e depois tudo ou quase tudo é esquecido. É, para incrementar uma certa amnésia coletivizada, é bom lembrar que a Copa-Business 2014 está chegando... E, daí ,o resto é o resto.

O modelo econômico dominante é, por natureza, energívoro e está atrelado à lógica corporativa de obesidade mórbida do capital. Os eventos climáticos extremos acabam sendo tratados como“fatalidades naturais”. Os comandantes* de plantão de nossa “Nau Terra” permanecem cegos, tentando esverdear o carvão e o petróleo, para manter a aceleração do crescimento econômico. Aqui no Sul, políticos e governantes querem mais e mais subsídios para o carvão! Mas, quem ganha com isso, e quando esta loucura vai terminar?

No Brasil, seguindo o modelo produtivista de exportação de commodities, puxado pela China, e de um consumo crescente de bens, cada vez mais descartáveis, muito pouco se tem questionado quanto ao retorno do uso do carvão mineral e do incentivo ao consumo de automóveis -  com obsolecência programada - que poluem e entopem as vias urbanas. Estamos imersos - pelo menos da classe média para cima - em ritmos de consumo alucinante e perdulário que, com tantas mortes e destruição, já se aproxima de uma guerra mundial contra a Natureza (incluindo os seres humanos que fazem parte dela).

Cabe a pergunta: os órgãos multilaterais, os governos e as grandes empresas, que lucram e acumulam capital com o modelo vigente, serão no futuro responsabilizados por esta negligência ou cumplicidade? Os mais pobres, como a terceira classe do Titanic, que vivem nas cidades pendurados nos morros ou que foram empurrados para a beira dos rios e valões, continuarão sendo as maiores vitimas das catástrofes climáticas? Poderão ser criados Tribunais Internacionais para julgar esses crimes de responsabilidade?

Quem sabe, pensamos um pouco mais nisso, tentamos enquadrar esses responsáveis e criamos um movimento cidadão local e internacional? O que esperamos para organizar uma cruzada para mudar urgentemente este modelo doentio de acumulação, que destrói vidas humanas e a biosfera? Ou vamos prever o pior. O tufão Haiyan é mais um trágico aprendizado. Vamos esperar quantos outros?

 

*Os comandantes da nau Terra  enlouqueceram?

E nós, para onde vamos?

(Disponível em: http://www.semapirs.com.br/semapi2005/site/livro/cd%20rom/arquivos/10.pdf)

  
             
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