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Terça-feira, 28 de Junho de 2016
  
Estandartes da Natureza

Conversa com o biólogo Sávio Freire Bruno, Doutor pela Escola Superior de Medicina Veterinária de Hannover, Professor da Universidade Federal Fluminense, uma autoridade no assunto.Ele publicou alguns livros, como o “100 Animais Ameaçados de Extinção e o que você pode fazer para evitar”, pela Ediouro em 2008, além de ser a liderança no projeto de conservação do Pato Mergulhão (Mergus octosetaceus Vieillot).

  
Por Ivan Ruela
  
 
As bandeiras são consideradas, oficialmente, os grandes ícones de nações, estados, movimentos, povos, famílias, agremiações esportivas e outras entidades e classes.
 
Na ecologia, as espécies conhecidas por “bandeiras” são aquelas que encapam grandeas campanhas publicitárias de conservação ambiental.
 
Este conceito tem o intuito de atentar, através da espécie em questão, para os fatores e problemas existentes no ecossistema em que esta habita. Além de ser mais viável do ponto de vista financeiro, a divulgação da campanha de uma determinada espécie contribui para indicar, por exemplo, o porquê de seu estado vulnerável, aliado ao desmatamento, que prejudica a sobrevivência de outros seres. Efeitos das mudanças climáticas noshabitats também são alertados por bioindicadores como o Urso Polar, por exemplo.
 
Ademais é bom sinalizar a questão da cadeia, no quanto a ausência ou a disseminação de uns influenciam a sobrevivência de outros.
 
Embora algumas espécies-bandeiras sejam até de caráter vegetal, os animais, principalmente os mais carismáticos são os preferidos destas campanhas. Destaque para o Urso Panda, Tigre-de-Bengala, gorilas, pelo mundo afora, e alguns primatas, tartarugas e psitacídeos pelo Brasil. Todos nós já ouvimos falar de alguns projetos que trazem como destaque a Ararinha Azul, a râ-bugio, o Mico Leão Dourado, ou as tartarugas marinhas.
 
O Biólogo Sávio Freire Bruno, Doutor pela Escola Superior de Medicina Veterinária de Hannover, Professor da Universidade Federal Fluminense, é uma autoridade no assunto.Tendo publicado alguns livros, como o “100 Animais Ameaçados de Extinção e o que você pode fazer para evitar”, pela Ediouro em 2008, além de ser a liderança no projeto de conservação do Pato Mergulhão (Mergus octosetaceus Vieillot)
 
E foi com ele, que papeamos um pouco sobre este instigante tema.
 
Professor, qual o seu elo com o tema ‘Espécies Bandeiras’?
 
Biologia e Conservação do Pato-mergulhão (Mergus octosetaceus Vieillot, 1817) no Parque Nacional da Serra da Canastra e Entorno, Minas Gerais, Brasil. Este projeto está cadastrado na Universidade Federal Fluminense desde 2002 e é que mais me dediquei em minha vida. E ainda há muitos novos desafios.
Atuo também em temas relacionados à biologia, ecologia e conservação do Formigueiro-do-litoral (Aves: Thamnophilidae), tanto no Núcleo Experimental de Iguaba Grande (NEIG – UFF), quanto em outras áreas de ocorrência desta ave (Formicivora littoralis). 
 Merece destaque, dentre as ações mais recentes, o projeto:
– Distribuição e uso de habitat de Mesoclemmys hogey (MERTENS, 1967) (CHELIDAE/REPTILIA) na região do Médio Paraíba do Sul, como subsídios para a conservação e desenvolvimento sustentável. Dissertação de mestrado do colega Fernando Matias sob minha orientação.
Acredito que o livro 100 “Animais Ameaçados de Extinção e o que você pode fazer para evitar”, publicado pela Ediouro (2008) seja, igualmente, uma modesta contribuição, no que se refere a algum projeto voltado para as espécies chamadas de “bandeiras”. Citaria outros trabalhos, todos voltados à animais ameaçados, com destaque para: Pato-mergulhão: biologia e conservação do pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) no Parque Nacional da Serra da Canastra e entorno (MG), pela Editora da UFF, em 2013.
Vale destacar o livro (projeto em fase de impressão), pela Editora da UFF, denominado “O ABRAÇO DO MURIQUI”, tratando de dez espécies bandeiras no Estado do Rio de Janeiro (organizador/co-autor)
 
-Qual a importância das espécies bandeiras para a preservação das outras e de seus habitats?
 
Dentre as principais ameaças às espécies bandeira ocupa, em primeiro lugar, à perda e degradação do próprio habitat. Evidentemente, no rol dessas ameaças elenca-se o desmatamento, a bioinvasão, os atropelamentos de fauna, entre outros. Pois é sabido que, ao se difundir a existência da espécie bandeira, sua função ecológica, seu valor intrínseco e a importância de sua conservação, difunde-se, natural e diretamente, a importância da conservação/preservação do seu habitat. Neste contexto, toda a diversidade biológica pode ser beneficiada, e não só, mas, efetivamente, todos os fatores bióticos e abióticos associados a um dado recorte geográfico, ecossistema ou mesmo, um bioma, tem maiores chances de serem valorizados e respeitados.

-Quais são os maiores empecilhos para as campanhas de preservação destas espécies?
 
Vejo empecilhos como desafios, conquistas a serem alcançadas. Dentre os maiores desafios, está o enfrentamento do próprio modelo civilizatório o qual estamos inseridos e, muitas vezes, subjugados. O modelo que “endeusa” o capital e o consumo, em detrimento às relações humanas e às relações sociedade-natureza. Entendo que o modelo produtivista, no qual a natureza é vista unicamente como recurso natural a ser explorado e diga-se, de passagem, sem sequer respeitar seus limites, sua capacidade de recuperação, é o modelo histórica e tradicionalmente imposto em terras brasileiras, explorada de forma espoliativa até que dada atividade econômica deixe de ser rentável. Felizmente as leis ambientais, mesmo com suas imperfeições,ainda fornecem uma esperança, desde que, um dia, sejam, de fato, respeitadas e melhoradas. Os números associados ao desmatamento, por exemplo, continuam assustadores no Brasil, particularmente no Cerrado e na Amazônia.
O modelo produtivista, muitas vezes associado ao não entendimento de uma ética universal, onde não só as vítimas da desigualdade social e histórica do país, mas também, a natureza, mereça cuidado e compaixão, cristalizou-se em expressivo segmento de nossa sociedade. Romper, por meio de uma educação renovadora, esses sujos cristais, é o maior desafio.
 
–  Qual o caminho para o sucesso destas campanhas?
 
Entendo que o sucesso está nas práticas, dia após dia, ação após ação. Talvez, esteja no sorriso do outro, sincero e engajado na luta contra  a miséria, a pobreza, a degradação social e ambiental. Se uma criança, por exemplo, lê uma obra de divulgação científica e esclarecedora e, a partir de então, eleva-se em sua reflexão, bem, este é, sem dúvida, o verdadeiro sucesso. Projeções mundiais são, muitas vezes, meras formas de cultivar o ego de alguns ou angariar fundos para outros. Se o projeto com o pato-mergulhão que desenvolvo pela UFF tem repercussão mundo afora, acredito que sim, ao menos no segmento especializado e na web, incluindo as redes sociais.
Percebo que o pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) tem alçado o patamar de espécie bandeira e tenho, ao longo da vida, empreendido esforços nesse sentido, evidentemente, credibilizando a colaboração de novos pesquisadores. O pato-mergulhão é uma espécie em perigo crítico de extinção e, historicamente, tem sua distribuição geográfica bem maior do que a atual, alcançando, inclusive o estado do Rio de Janeiro. É sabidamente, um indicador biológico da qualidade das águas continentais, sendo, portanto, potencial não só para ser uma bandeira de conservação das águas do Alto São Francisco, e sim de boa parcela do resto do país.
  
             
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