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Agricultura familiar

Quarta-feira, 11 de Março de 2015

 
     

Mulheres da Via Campesina mostram os malefícios dos agrotóxicos

  

Elas defenderam a agroecologia para a produção de alimentos e apresentaram os resultados da sua experiência

  

Débora Gallas    


Por Débora Gallas - especial para a EcoAgência

A atividade integrou a Jornada Nacional de Lutas da Via Campesina que ocorre nesta semana. Hoje (11), a mobilização iniciou cedo com uma caminhada que atravessa a capital gaúcha e se dirige ao centro de Porto Alegre, onde durante a tarde deverão reivindicar ao governador José Ivo Sartori (PMDB), a continuidade das políticas públicas conquistadas no governo anterior, mas que foram paralisadas como o Programa Estadual do “Plano Camponês”. Além disso, vão exigir o assentamento das três mil famílias acampadas no RS e a desburocratização na liberação dos créditos agrícolas para as famílias assentadas. A Jornada também cobra políticas públicas para o fim da violência e a melhoria de vida das mulheres, e a suspensão dos projetos das barragens de Garabi, Panambi e Itapiranga, no Rio Uruguai.

A encenação realizada pelas mulheres da Via Campesina ocorreu durante o debate realizado na Assembleia gaúcha e evidenciou impactos decorrentes do uso de venenos pelo agronegócio: a contaminação de pequenas lavouras, a invasão de pragas nas produções orgânicas, a morte de abelhas –polinizadoras da produção-, a contaminação da água por metais pesados e as frequentes ocorrências de feminicídio e violência contra as mulheres. As agricultoras reivindicam ao Ministério Público que interfira pela proibição da pulverização e condenação dos responsáveis. O agricultor José Mariano, de Encruzilhada do Sul, relatou o sofrimento pelo qual passa desde que foi contaminado por agrotóxicos. Contou que a dor o impede de trabalhar e apelou para que receba atendimento médico.

Salete Carollo, militante da Via Campesina, defendeu junto às milhares de mulheres participantes da mobilização nesse dia 10 de março, a qual incluiu uma caminhada pelas ruas da capital, a produção de alimentos limpos, que não destruam a biodiversidade e não contaminem os seres humanos. Ela pediu o comprometimento das autoridades presentes ao ato na Assembleia Legislativa gaúcha com a causa: “Não podemos continuar com a sensação de impunidade”. A agricultora ressaltou que o atual modelo de produção não origina alimentos, e sim commodities, e que a soja e o eucalipto “estão custando vidas”. Por isso, ela apoia os projetos de lei em tramitação na Assembleia Legislativa do RS, propostos pelo deputado estadual Edegar Pretto (PT), como o PL 262 /2014, que visa proibir a fabricação e a utilização do agrotóxico 2,4-Diclorofenoxiacético (2,4-D) no Rio Grande do Sul, o PL 263/2014, que dispõe sobre a proibição da pulverização aérea em lavouras e o PL 44/2015, que obriga a indicação nos rótulos de alimentos produzidos com uso de agrotóxicos.

As agricultoras Cristiane, assentada em São Jerônimo há 12 anos, e Rosa Silveira de Aguiar, que vive há cerca de seis anos na Fazenda Branca, em Encruzilhada do Sul, trabalham com produção orgânica de arroz e soja. Os produtos dos assentados, segundo Cristiane, são fornecidos para escolas da região e também comercializados em outros estados. As agricultoras, no entanto, presenciam o avanço dos agrotóxicos nas plantações e temem pela saúde da comunidade camponesa. “O veneno toma conta do Brasil e temos que combater. Idosos e crianças estão morrendo”, afirmou Cristiane.

Frente à fragilidade a que o meio ambiente e a vida estão submetidos, em razão do uso de venenos na agricultura, a luta das mulheres por um modelo alternativo de produção já traz resultados. Salete Campigotto, integrante do MST desde 1981, é diretora do Instituto Educar, no município de Pontão, voltado à formação para Ensino Médio e Técnico. A instituição foi fundada em 2005 e sua criação foi possibilitada pela conquista, através do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), da alfabetização de trabalhadores do meio rural e da capacitação de educadores.

Segundo a professora, o objetivo da escola é formar técnicos agrícolas que contribuam para a produção de alimentos livres de venenos e de transgênicos nos assentamentos e cooperativas através de uma formação humana, política e ideológica vinculada à agroecologia. “A proposta do MST é a reforma agrária popular. Nós precisamos e merecemos alimentos saudáveis.” Por isso, Salete preocupa-se com a contaminação de veneno ao redor da escola o que tem causado, por exemplo, a redução do apiário. Hoje, o Instituto Educar conta com horto medicinal, pomares, agrofloresta e lavoura e recebe cerca de 100 estudantes em regime de internato, que consomem diariamente todo o alimento que produzem. Parte do leite orgânico e da carne é vendida em cooperativas do MST. A escola também é um polo de extensão da Universidade Federal da Fronteira Sul.

Finalmente, as mulheres lembraram as desigualdades sofridas pelas trabalhadoras no Estado, que recebem remunerações menores do que os homens e têm suas famílias afetadas pelo déficit de vagas na educação infantil. Elas reivindicaram o retorno da Secretaria de Políticas para as Mulheres, extinta pelo governo de José Ivo Sartori, e criticaram a falta de diálogo do poder público com os movimentos. Após, caminharam até a sede do Incra, que permanece ocupada até o encerramento da Jornada.   

EcoAgência

  
  
  
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