Untitled Document
Bom dia, 16 de abr
Untitled Document
Untitled Document
  
EcoAgência > Notícia
   
Observatório de Jornalismo Ambiental

Segunda-feira, 05 de Outubro de 2020

 
     

A grande questão comum aos biomas brasileiros

  

Ao mesmo tempo em que as políticas públicas e privadas não incentivam a morte da biodiversidade dos ecossistemas brasileiros, cujas imagens têm nos comovido há meses, reproduzem a política econômica neoliberal que elimina a diferença, cala comunidades e se recusa a conhecer os potenciais dos territórios

  

Captura de tela parcial da capa da revista    


Por Eliege Fante*

Uma busca no Google com as palavras-chaves “Amazônia; Pampa” resulta em dezenas de páginas com notícias, e textos acadêmicos e/ou de órgãos de governos e instituições para estudo ou conhecimento sobre ambos biomas. A questão das queimadas, comum aos biomas brasileiros, apareceu como nesta notícia ao mostrar a incidência do fogo. Em geral, a abordagem inclui o combate, a fiscalização, as multas e punições previstas, a eficácia das leis.

Apareceu também a questão comum da perda por supressão como nesta notícia do IBGE e republicada, em que somos informados do resultado da conversão de áreas, ainda que não trate das motivações: “‘O Pantanal tem como atividade tradicional o pasto nativo, mas ele vem sendo substituído pela pastagem por manejo, por meio da substituição por forrageiras exóticas, ou seja, gramíneas que não são originais do Pantanal’, observou.” O destaque na fala é nosso para provocar a reflexão sobre as motivações desse maior valor investido no que é exótico e na contramão da experiência e do conhecimento científico e técnico local sobre a biodiversidade nativa.

As queimadas na Amazônia, e demais biomas onde os índices têm dado saltos em relação a anos atrás, são criminosas e têm a finalidade de suprimir a biodiversidade para transformar as áreas em campo, seja para pecuária em pastagem plantada ou para monocultura de soja (ou qualquer outra monocultura exótica que o mercado internacional de commodities ditar, como de eucalipto). Diante disso, a grande questão comum aos biomas brasileiros e a ser feita aos decisores das políticas públicas e privadas, por toda a sociedade, muito além do Jornalismo e das empresas dos meios de comunicação (que não estão fazendo) é: Por que investir em pecuária no bioma Amazônico, o centro do debate mundial sobre degradação e que é florestal, ou seja, possibilita outras atividades econômico-produtivas, quando seria possível incentivar a pecuária que conserva a biodiversidade nos campos do Sul do país?

Em acordo com a Rede Campos Sulinos, que reúne grupos e pesquisadores de diversas universidades e centros de pesquisas do Brasil: “não parece lógico que no Brasil se desmate floresta na Amazônia para lá ampliar as áreas de pecuária, baseada em pastagens plantadas, e se eliminem milhares de hectares de campos nativos no Sul do Brasil para produzir grãos para exportação ou plantar árvores exóticas”. Este alerta de 2015 é fundamentado por trabalhos que acumulam dados e experimentos e pode ser conferido na publicação Os Campos  do Sul, entre outras.

Os números recentes sobre o estado de conservação do bioma Pampa podem ser conferidos nesta live do MapBiomas. Já as questões sobre as atividades econômico-produtivas coerentes com as características dos ecossistemas campestres são respondidas pelo professor e pesquisador Valério de Patta Pillar, coordenador da Rede Campos Sulinos, nesta live realizada pelo Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul.  

É de julho de 2020 a publicação “Revista Campo Nativo & Pastagens” que traz a opinião do professor e pesquisador Carlos Nabinger: “a pesquisa demonstra que é possível aumentar em cerca de 300% a produtividade animal em campo nativo apenas com adequado ajuste da carga animal e do diferimento estratégico de potreiros, e ainda melhorando os serviços ecossistêmicos. Isso significa passar da média estadual (no Rio Grande do Sul) atual de 70 Kg de peso vivo produzidos por hectare/ano para mais de 200 Kg sem qualquer custo adicional e ainda produzindo produtos com qualidades superiores para a nutrição e saúde humana.”

Portanto, o que está em jogo são as políticas públicas e privadas que homogeneízam os territórios. Delas decorre a exclusão da diversidade para a concentração de riquezas e o silenciamento da pesquisa e da ciência. À imprensa, talvez não seja tão urgente seguir nessa busca por sensibilização do grande público, a partir das imagens dolorosas e de morte dos seres pelo fogo, na mesma medida em que é urgente questionar, provocar reflexões, gerar esclarecimentos para uma mudança de paradigma. 

 

Para conhecer mais sobre o tema:

Biomas desconsiderados pela política pública e pelo jornalismo público: aproximações entre Amazônia e Pampa

Iniciativa Alianza del Pastizal 

 

* Este texto foi produzido por integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS) no âmbito do projeto de extensão "Observatório de Jornalismo Ambiental". A republicação é uma parceria com o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS).

 

 

GPJA/OJA - EcoAgência

  
  
  
Untitled Document
Autorizada a reprodução, citando-se a fonte.
 
Mais Lidas
  
Untitled Document
 
 
 
  
  
  Untitled Document
 
 
Portal do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul - Todos os Direitos reservados - 2008