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Observatório de Jornalismo Ambiental

Sexta-feira, 14 de Janeiro de 2022

 
     

Desafios da cobertura jornalística sobre os impactos do Plano Diretor

  

A população da capital catarinense, a depender da cobertura jornalística local, pouco ou nada saberá do que planejam os gestores para mudar o uso do solo da cidade

  

Captura de tela da entrevista do Sul21    


Por Míriam Santini de Abreu*

Os jornalistas que cobrem “Geral” ou “Cidade” sabem o tamanho do desafio de tornar atrativas as notícias e reportagens sobre mudanças no Plano Diretor, que, segundo o Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2011), é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana do município. As mudanças mexem de forma direta no cotidiano dos moradores, mas explicar isso significa compreender a disputa pelo solo urbano e dar a entender termos como “gabarito”, “capacidade de suporte”, “potencial construtivo” e “coeficiente de aproveitamento”, assim como dezenas de siglas que nomeiam as áreas da cidade. Duas capitais do Sul, Florianópolis e Porto Alegre, estão discutindo alterações nos planos diretores, e os jornalistas se deparam com esse desafio.

Em Florianópolis, a cobertura jornalística sobre o tema expressa a realidade local de mídia, onde o grupo NSC, ex-RBS, tem magra cobertura local, e o grupo ND, ex-RIC, ligado ao grupo Record, alinha-se ao discurso da prefeitura e do empresariado. A prefeitura realizou Audiência Pública em 17 de dezembro e irá promover outras 14 em janeiro para apresentar as mudanças no Plano Diretor, desconsiderando críticas dos movimentos sociais organizados. Essas críticas se relacionam à forma, ao conteúdo e à organização do processo, em plena temporada de verão e com casos crescentes de contaminação por covid-19. As críticas não aparecem nas poucas notícias e raríssimas reportagens publicadas nos veículos dos dois grupos e, nas colunas e editoriais, são atribuídas a “grupos ideológicos de esquerda”, historicamente chamados de “os contra”, como na coluna de Moacir Pereira, comentarista político de longa data demitido do grupo NSC e contratado pelo grupo ND.

Desde o início de dezembro passado, quando a prefeitura apresentou a proposta de mudança do Plano Diretor, até agora, às vésperas das audiências para ouvir a população sobre os rumos da chamada “Ilha da Magia”, esses veículos não se prestaram a apresentar a proposta de forma detalhada e ouvir quem é crítico aos planos da atual administração. A cobertura se limita aos releases enviados pela prefeitura e às entrevistas de secretários e empresários descontentes com a mobilização do movimento popular, que tem obtido até agora vitórias na justiça para suspender as Audiências Públicas agendadas para janeiro. Nesse ínterim, em meio ao calor do verão e ao temor pelo recrudescimento da pandemia, a população da capital catarinense, a depender da cobertura jornalística local, pouco ou nada saberá do que planejam os gestores para mudar o uso do solo da cidade.

Já um bom exemplo de como um veículo pode oferecer informação de qualidade apareceu dia 7 de janeiro no site de notícias Sul21, que publicou entrevista pingue-pongue com o prefeito de Porto Alegre intitulada “Sebastião Melo: ‘O Plano Diretor que vamos mandar para a Câmara será bastante liberal’”. As perguntas permitem ao prefeito expressar o projeto para a cidade, mas não deixam de explorar contradições, aprofundar afirmações vagas e apresentar exemplos concretos em que o discurso oficial contradiz a prática da prefeitura. Também é visível o conhecimento dos jornalistas sobre a história da cidade e as ações de administrações anteriores, quando perguntam, por exemplo, se os projetos em curso estão mantendo o legado de preocupação ambiental de Porto Alegre. É importante assinalar que o Sul21 publicou em julho do ano passado um especial, intitulado “Que Porto é esse: quem ganha com as transformações na capital”, com sete reportagens repletas de entrevistas, dados e fotografias que oferecem ao leitor um prato colorido e apetitoso para compreender a disputa pelo espaço urbano na capital gaúcha. Os veículos de Florianópolis estão devendo um prato desses na cobertura dos impactos da mudança do Plano Diretor local.


*Texto produzido no âmbito do projeto de extensão "Observatório de Jornalismo Ambiental" por integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS). A republicação é uma parceria com o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS). Miriam Santini é jornalista, especialista em Educação e Meio Ambiente, mestre em Geografia e doutora em Jornalismo.

 

 

 

 

 

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