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Debate

Sexta-feira, 09 de Outubro de 2015

 
     

Os impactos regionais e os entraves políticos no enfrentamento das mudanças climáticas

  

Para Brack, Brasil busca papel de destaque nas negociações internacionais, mas adota um discurso ambíguo ao classificar a energia hidrelétrica como limpa e renovável

  

Rodrigo Dornelles    
Professor da UFRGS Paulo Brack e servidora da Fepam Sabrina Feltes


Por Débora Gallas - especial para a EcoAgência

A primeira edição do Ciclo de Debates Mudanças Climáticas: O que você tem a ver com isso? ocorreu nesta sexta (09) na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS, em Porto Alegre. As dificuldades para abordagem da questão em diversos níveis e setores sociais foram mencionadas pelos palestrantes, a analista ambiental da FEPAM Sabrina Feltes e o professor do Instituto de Biociências da UFRGS Paulo Brack.

A engenheira química Sabrina Feltes apresentou os resultados do Plano Ar, Clima e Energia (PACE), realizado pela FEPAM através de cooperação com o governo da França entre março de 2010 e julho de 2011. Através de reuniões com os atores locais – instituições públicas, privadas e organizações não-governamentais – o trabalho resultou em diagnósticos, consultas técnicas e mapeamento de tendências a fim de identificar as vulnerabilidades do Rio Grande do Sul em relação a esses domínios, estudados de forma transversal. Para Feltes, o projeto foi vitorioso por perdurar com o início de uma nova administração no estado a partir de 2011. A servidora destacou, no entanto, a descontinuidade das ações da gestão pública, que não é integrada, e defendeu iniciativas como o planejamento estratégico e a educação ambiental, pois “a sensibilização ambiental ainda não está inserida no dia-a-dia”. A engenheira também diagnosticou resistência do mercado em promover mudanças, pois o setor costuma optar por soluções mais baratas sem considerar os efeitos de seu modo de produção.

Segundo Feltes, o PACE identificou ameaça de ecossistemas e fauna na Mata Atlântica, no Pampa e nas regiões costeiras, o aumento dos riscos naturais causados pelo impacto de eventos climáticos extremos, como os temporais, a redução das safras, especialmente de soja e milho, o aumento das emissões no transporte, na agropecuária e do consumo de energia no setor industrial. Neste sentido, a analista ambiental ressaltou a necessidade de incentivos para as energias renováveis e a avaliação das fontes de emissões.  Entre as orientações específicas previstas pelo Plano, estão a promoção de iniciativas de planejamento energético no estado, a diminuição de impactos dos transportes, a valorização dos resíduos, que são vistos como descartáveis, e a promoção da eficiência energética nas atividades econômicas.

Segundo Paulo Brack, há dificuldades para o questionamento do modelo de produção energética e a utilização de recursos finitos como carvão e petróleo tanto junto aos setores industriais como por parte da esquerda que defende a exploração do pré-sal. O professor e biólogo iniciou sua fala com referências ao pesquisador espanhol Antonio Turiel Martinez, que critica a lógica de produção e consumo ilimitados e a dependência do petróleo. Brack mencionou o decrescimento econômico como alternativa ao modelo capitalista que causa o aumento das emissões de dióxido de carbono na atmosfera, destacando que grande parte da energia brasileira é direcionada aos produtores de minério de ferro, aço, alumínio, papel e celulose, responsáveis pela exportação de commodities.

O professor da UFRGS comentou a forma como a situação é vista pela política brasileira. Ressaltou que o País busca papel de destaque nas negociações internacionais, mas adota discurso ambíguo, uma vez que classifica a energia hidrelétrica como limpa e renovável. O professor criticou ONGs ambientalistas que não questionam tal posicionamento do governo e adaptam as soluções às regras do mercado. O professor também alertou para as evidências da existência e dos impactos das mudanças climáticas: 2014 foi o ano mais quente da história, segundo a NASA, e os 10 anos mais quentes ocorreram a partir de 1997. O aumento de 1◦C na temperatura do planeta registrado ao final do século XX ocorreu de maneira desigual, diferindo de região para região, sendo o Rio Grande do Sul uma das mais afetadas. Diante desse contexto, Brack ressaltou a necessidade de descentralização na produção da energia para evitar desperdício, a discussão política sobre a descarbonização, ainda restrita ao meio técnico e a discussão de alternativas para o modelo de consumo.

Durante o debate com o público, Sabrina Feltes lamentou a existência de manipulações que transcendem as atribuições legais da Fepam e de um corpo técnico exíguo frente ao grande número de processos acumulados, mas ressaltou que, apesar dessas restrições, os servidores realizam trabalho alheio aos interesses econômicos. Paulo Brack mencionou o anúncio ocorrido ontem (08) sobre a criação do V20, grupo dos 20 países mais afetados pelas mudanças climáticas, que receberão ajuda financeira global para enfrentar os efeitos, e questionou o pagamento dessa compensação frente à continuidade de um modelo poluente e degradador. Por fim, defendeu: “é preciso rever o esgotamento do modelo e o modelo de esgotamento”.

O evento é uma Realização do Grupo TEMAS (Tecnologia, Meio Ambiente e Sociedade) com o apoio do PPGCOM (Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental)/UFRGS e GPACE (Grupo de Pesquisa Associativismo, Contestação e Engajamento). O próximo debate do ciclo será em 4 de novembro, também na Fabico, e terá como convidado o professor da UFRGS e pesquisador Jéferson Cardia Simões.

EcoAgência

  
  
  
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