O Quirguistão geralmente nunca aparece no noticiário internacional. No início de 2010, porém, foi diferente: o presidente foi deposto e protestos violentos tomaram as ruas. De lá para cá, a calmaria voltou ao país de 5,5 milhões de habitantes, pobre em recursos naturais.
Só que o país tem outros problemas bem mais persistentes. Quase nenhum outro país fica tão distante do mar como a montanhosa república da Ásia Central. Lá falta um importante regulador do clima interno: massas de água que evaporam no mar e caem em forma de chuva no continente. As poucas florestas, rigorosamente desmatadas, também oferecem pouca ou nenhuma umidade.
Esses fatores determinam a paisagem do Quirguistão: um país onde estepes e desertos ocupam metade do território, com verões muito quentes, invernos gelados e pouca chuva: 250 a 280 milímetros por ano. Para se ter uma ideia, no sertão nordestino do Brasil a precipitação anual fica em torno dos 500 milímetros.
Problema hídrico da Ásia Central
As condições climáticas deixam os quirguizes vulneráveis às mudanças climáticas. Em 40 anos, a temperatura média anual aumentou 2ºC, segundo a Academia de Ciências. Em termos globais, o aumento foi de 0,5ºC, de acordo com o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, do inglês).
Temperaturas elevadas levam ao derretimento das geleiras na Cordilheira Tian Shan, o que causa inundações na primavera e à seca frequente dos rios no verão. Agricultores têm dificuldade em irrigar suas plantações. E em longo prazo as condições climáticas ameaçam também o abastecimento energético, já que a energia do Quirguistão vem de usinas hidrelétricas. A matéria-prima para a geração de energia, no entanto, está desaparecendo. O espelho d'água do lago Issyk-Kul, no nordeste do país, já baixou quase um metro desde 1998.
"A água é o tema regional na Ásia Central", diz Heino Meessen, que desenvolve projetos ambientais na região para a Universidade de Berna. Em países planos como o Uzbequistão e o Turcomenistão, com sua agricultura e irrigação intensivas, os problemas causados pelo derretimento das geleiras são particularmente impressionantes.
"As consequências das mudanças climáticas são claramente perceptíveis na nossa região. Infelizmente a população dá pouca importância para isso", relata Nurzat Abdyrasulowa, da organização ambientalista quirguiz Unison. Seu país é um dos mais pobres da Ásia: cerca de 40% da população vivem abaixo da linha da pobreza, 18% estão desempregados. "Eles têm outros problemas além das mudanças climáticas," diz Abdyrasulowa.
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