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Cidadania Ambiental

Quinta-feira, 04 de Julho de 2013

 
     

Gênero com classe

  

Entrevista com Yayo Herrero sobre Ecofeminismo

  

Adital    
Yayo Herrero, ativista social e ecofeminista


Por Adital

EcoPolítica: Quando se fala em ecofeminismo, muitas mulheres feministas o rechaçam, pois, em certas correntes, volta a dar às mulheres o papel de cuidadoras da vida. Como vês essas críticas? Acreditas que o ecofeminismo poderia ser uma alternativa para o mundo feminista e englobar as demais mulheres que não se definem como tal?

Yayo Herrero: O ecofeminismo, segundo nosso entendimento propõe o cuidado da vida humana e os trabalhos que se encarregam da reprodução social são absolutamente imprescindíveis e não podem deixar de ser feitos. Isso não quer dizer que somente devam ser executados por mulheres. A necessidade imperiosa é que os homens, além do Estado e dos mercados, assumam corresponsavelmente essas tarefas que, muitas vezes, são penosas e duras.

É muito normal que os diferentes feminismos alertem sobre o perigo de mistificar os cuidados ou reivindicá-los sem questionar a atual divisão sexual do trabalho.

Não se trata somente de dar valor aos trabalhos domésticos, coisa que, sem dúvida, ele tem; mas, de reclamar uma repartição justa dessas tarefas entre homens e mulheres, bem como ressaltar a necessidade de que a sociedade em seu conjunto e os Estados se tornem responsáveis por eles.

EP: Ao lado de outras correntes, como o ecopacifismo, o meioambientalismo, o ecossocialismo, entre outros, que papel teria que jogar o ecofeminismo dentro da Ecologia política?

YH: O ecofeminismo e os diferentes feminismos têm que jogar um papel muito importante nas propostas da ecologia política. A economia feminista tem uma elaboração teórica e uma série de propostas ao redor do modelo de trabalho ou da construção dos espaços públicos e da organização do tempo, por exemplo, absolutamente sinérgicas com as do ecologismo social. Desbancar aos mercados e seus benefícios como epicentro da sociedade requer mudar o sistema de prioridades sociais e nesse tema o ecologismo necessita das contribuições que, há décadas, os diferentes feminismos vêm realizando.

EP: Como ativista social e ecofeminista, qual tua opinião sobre a dinâmica de Europe Ecologie, na França, e as propostas de criação no Estado espanhol de uma "cooperativa política” para dar um novo impulso à galáxia ecologista e verde?

YH: Nesses tempos, as iniciativas de cooperação devem ser observadas com interesse. É necessário ver quais são as propostas de transformação que impulsionam essas iniciativas. Para mim, se desenvolvem dentro dos marcos do capitalismo suave e verde; não propõem mudanças estruturais profundas; não apostam em mecanismos de repartição da riqueza (renda, trabalho, terra etc.) que levem em consideração as relações centro-periferia e não propõem reduções muito significativas da extração de materiais e geração de resíduos... Serão iniciativas pouco críveis além das etiquetas com as quais se apresentem. Creio que já levamos muito tempo equivocando-nos e muitos dos principais problemas que afrontam a humanidade (como mudança climática, crise energética, pico de diferentes materiais, perda de biodiversidade etc.) em apenas uns poucos anos serão irreversíveis.

EP: A presença e a influência de mulheres está ainda longe dos níveis desejados nos movimentos alternativos, sociais, políticos etc. Em tua opinião, quais são os caminhos para que as mulheres se incorporem e contribuam com teoria e prática ao movimento alternativo em geral e ao movimento verde, em particular?

YH: Creio que precisamente a repartição de tarefas de reprodução social e trabalho doméstico é essencial. Nos movimentos sociais que eu conheço há muitas mulheres jovens ativas; porém, a partir de certa idade, a participação é muito mais masculina.

Nos movimentos sociais e espaços de participação política se reproduzem os mesmos esquemas de repartição desigual dos diferentes tipos de trabalho, os mesmos esquemas de relações de poder que na sociedade.

Além disso, em alguns coletivos, permanecem formas de relação arcaicas que são agressivas e que valorizam o debate áspero ou as intervenções intermináveis, como mostra de pensamento crítico. A violência gratuita nas reuniões ou espaços de elaboração inibe a participação de muitas pessoas e, especialmente, das mulheres.

EP: Em alguma conversa e Artigos comentaste sobre a necessidade de desenvolver a teoria do Decrescimento e aplicá-la à vida diária. Nesse sentido, quais são os desafios e as contribuições que podem ser feitas a partir do mundo e da teoria feminista ao decrescimento?

YH: Em primeiro lugar, me parece essencial a visibilização da ingente quantidade de trabalho oculto que se desenvolve no espaço doméstico e que se torna imprescindível para a sociedade. Em segundo lugar, é central a exigência de que esses trabalhos, muitos dos quais são penosos e ninguém os realizaria, caso pudesse evitá-lo, devem ser repartidos e os homens não podem fugir deles.

A dedicação dos tempos à realização de trabalhos necessários socialmente e a escassez dos tempos dedicados a realizar trabalhos destrutivos do meio ambiente e da própria sociedade (uma boa parte dos setores atuais) pode ajudar a configurar um mundo articulado ao redor da resolução das necessidades das pessoas e não da obtenção de benefícios.

A ideia de viver bem com menos se centra na urgência de frear e de reduzir a extração de materiais e a geração de resíduos, ao mesmo tempo em que melhoramos a qualidade relacional e comunitária dos lugares em que vivemos.

Os feminismos contribuem com uma crítica ao modelo urbano e uma série de propostas ao redor da geração de serviços públicos que cubram parte das necessidades de cuidados, bem como uma denúncia do componente de classe, além do sexual, que existe na atribuição dos trabalhos domésticos.

Para mim, não é viável uma sociedade que pretenda decrescer no aspecto material, porém, que não seja anticapitalista e antipatriarcal.

Adital/EcoAgência

  
  
  
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