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Dia do Bioma Pampa

Sábado, 17 de Dezembro de 2016

 
     

Movimentos celebram a diversidade e chamam pra luta em defesa do Pampa

  

Representantes de povos tradicionais, pesquisadores e ambientalistas expressaram preocupação com a falta de políticas públicas direcionadas à conservação e com as medidas de austeridade adotadas pelos governos estadual e federal

  

EcoAgência    
Fernando Aristimunha, Roberto Verdum, Julio Alt (Mogdema), Dorvalino Cardoso e Vherá Jaime


Por Eliege Fante e Débora Gallas - especial para a EcoAgência

Hoje, 17 de dezembro, comemoramos o Dia do Bioma Pampa e o aniversário de nascimento de José Lutzenberger, ambientalista e uma das primeiras pessoas a perceber a riqueza do bioma brasileiro menos preservado. Enquanto avança a luta pela inclusão do Pampa no Artigo 225 da Constituição Federal, através da aprovação da PEC 05/2009 do Senador Paulo Paim (PT), o que lhe dará o status de patrimônio natural nacional assim como já ocorre com Mata Atlântica e Amazônia, o Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente (Mogdema) com o apoio de diversas entidades reuniu na noite dessa sexta-feira (16), no Auditório do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa), a cidadania engajada contra o desmonte de políticas públicas pelos governos Sartori e Temer, ambos do PMDB. Se há muita luta pela frente, há também um exemplo a ser seguido, como expressou Frei Pilato Pereira durante a homenagem prestada ao Irmão Antonio Cechin, pioneiro do movimento ambientalista gaúcho que nos deixou há um mês aos 89 anos. “Sua vida impulsionou outras pessoas a seguirem lutando. Irmão Cechin é como um farol que segue nos mostrando o caminho,” disse ao ser vivamente aplaudido pelos participantes.  

Com o tema “Faces, cultura e identidades do bioma”, a Celebração do Bioma Pampa de 2016 iniciou com a palavra de representantes dos povos e comunidades tradicionais. O representante indígena Kaingang, Dorvalino Refej Cardoso, é um dos pioneiros na demarcação de terras, ação que segundo ele, nunca foi tão difícil de realizar. O tema é objeto de um decreto do governo federal que, se baixado, restringirá ainda mais as demarcações em andamento com o objetivo de atender demandas do agronegócio e de mineradoras. Mas até a invasão do Brasil, disse Dorvalino, não havia fronteiras e, antes da colonização, o território era farto. “Hoje os rios estão doentes, não respeitamos a terra que nos dá a vida. Dizem que é preciso plantar grãos para sustentar a vida, mas isso não é saber viver. Eu sei viver, eu não penso em acumular bens. Eu aprendi com os pássaros, eu aprendi com os animais porque as vidas devem aprender entre si. Nós somos a natureza. Não somos separados da natureza como a Ciência diz,” postulou.

 

Em acordo, Vherá Jaime, representante indígena Guarani, atentou para a qualidade da água como indicativo de que a vida encontra-se hoje desprotegida. "A água é caminho, é corrente e faz as pessoas seguirem. A água do Guaíba, por exemplo, é parada, não tem para onde ir". E completou: "Os indígenas também estão defendendo a cidade quando lutam por água boa". Por perceber a importância das nascentes, ressaltou a luta de seu povo pela preservação das matas que ainda restam no estado. "Nossa farmácia e nossa medicina estão na mata", frisou. O cacique também comentou que o poder público não oferece soluções para as questões indígenas e defendeu o respeito aos direitos de quem vive nessas terras.

 

De Quaraí, extremo oeste do Rio Grande do Sul, o pecuarista familiar Fernando Pires Moraes Aristimunho retratou a vivência e a mobilização através da participação no Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa. “Nossas áreas são as mais conservadas do bioma. Mas nós sofremos a pressão do agronegócio com os transgênicos e a própria política pública Pronaf financia este modelo. Por isso temos dificuldade em encontrar sementes crioulas, há erosão dos solos, e há erosão das raças crioulas também,” contou. Conforme Fernando, a atuação no Comitê mostra a importância das populações locais para a conservação do bioma, visibiliza o seu trabalho e promove a superação de preconceitos com o reconhecimento da sociedade referente ao papel social que cumprem.

 

A superação de preconceitos também é tarefa científica, mas de uma ciência diferente daquela criticada por Dorvalino: a ciência que considera o outro e a biodiversidade. Há 30 anos, o professor do Instituto de Geociências da UFRGS Roberto Verdum leva os estudantes a vivenciar esta prática científica plural. Com o título “Mitos e verdades”, ele abordou em sua fala questões polêmicas como a dos “desertos” gaúchos, um discurso falacioso difundido pela imprensa em geral. “A imagem dos desertos do Pampa foi um mito construído. Esta construção simbólica em torno do eucalipto data do Governo Simon (PMDB),” explicou sobre o suposto controle que as monoculturas arbóreas fariam. A verdade, segundo o professor, é que os areais também são naturais do Pampa, e atrás da chamada fragilidade ou até mesmo “pobreza” daqueles solos, há uma imensa biodiversidade e história humana. “Toda vez que visitamos encontramos materiais indígenas, além de espécies da flora com potencial medicinal e/ou criticamente em perigo de extinção como a Amaranthaceae, e espécies da fauna adaptadas aos areais como o Graxaim”, afirmou.


Segundo Verdum, o chamado “reflorestamento” não “recupera” os areais, e o plantio de eucaliptos e pinus desconsidera a existência da vegetação nativa do bioma Pampa. O permanente discurso falacioso sobre a pobreza dos solos pampianos incide diretamente sobre a impermanência da população pampiana no território. Isto porque favorece o modelo econômico vigente que dita os plantios de monoculturas, ajuda a baratear as áreas em favor da aquisição de grandes empresas de celulose e/ou grandes produtores rurais de commoditties em detrimento da pecuária familiar e dos outros modos de viver das comunidades tradicionais.


Em carta aberta divulgada no evento e assinada pelas entidades apoiadoras, destacam-se as principais ameaças ao Pampa. Apesar da grande biodiversidade, das belas paisagens campestres e das diversas identidades socioculturais presentes no bioma, intensifica-se o avanço da monocultura de eucalipto e do cultivo de soja transgênica, o que também envolve o uso intensivo de agrotóxicos. Além de prejudicar a água, o solo, o ar e os indivíduos, esse modelo causa a ruína da pecuária familiar e de produtores assentados. A situação se agrava a partir da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, encaminhada pelo governo de Michel Temer aprovada pelo Senado Federal em segundo turno nesta semana, e que congela investimentos por vinte anos, e do pacote proposto pelo governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, para extinção de dez fundações estaduais, dentre as quais a Fundação Zoobotânica, e que deve ser votado na Assembleia Legislativa na próxima semana.

A Celebração do Bioma Pampa encerrou-se com a doação de mudas do Grupo Viveiros Comunitários e de materiais do Projeto RS Biodiversidade e das demais entidades apoiadoras do evento. Dançando e cantando em roda, os presentes também puderam participar da apresentação do percussionista Mestre Chico. A música dos povos de terreiro alegrou os participantes. Confira: https://youtu.be/OQwhyQaKsyE

Promoção do evento: MoGDeMA - Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente

Apoio: INGÁ - Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais, Rede Campos Sulinos,

AGAPAN - Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, NEJ-RS - Núcleo de Ecojornalistas/EcoAgência, FLD - Fundação Luterana de Diaconia, PIA - Pastoral Indigenista Anglicana, CIMI Sul - Conselho Indigenista Missionário, Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa, ACESSO - Cidadania e Direitos Humanos, GVC - Grupo Viveiros Comunitários - Biociências/UFRGS, APEDEMA - Assembleia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul.

 

 

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