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Quarta-feira, 15 de Junho de 2016

 
     

Jornalismo ambiental e movimentos populares são pauta da Terça Ecológica

  
O apelo pelo desenvolvimento econômico faz com que os governos nacionais defendam empreendimentos poluidores em prejuízo da população. A avaliação foi feita, nesta terça-feira, em Porto Alegre, pelo jornalista uruguaio Victor Bacchetta, ao relatar a mobilização popular que barrou a instalação de uma megaempreendimento para mineração de ferro no interior do Uruguai.
  

Débora Gallas    
Jornalista uruguaio Victor Bacchetta


Por Sinara Sandri

Bacchetta é uma referência no jornalismo ambiental internacional e está no Brasil para participar das Jornadas Jornalismo e Conflitos Ambientais, promovida pelo Programa de Pós Graduação em Comunicação e Informação da UFRGS. A agenda começou na Terça Ecológica, debates promovidos regularmente pelo Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul, na Fabico.
A partir da experiência do Movimento Uruguai Sustentável (movusuruguay.org; @movus.uruguay), Bacchetta identifica a importância do jornalismo ambiental para informar a população e criar uma “cidadania consciente” em uma conjuntura em que os operadores do Estado estão cada vez mais ativos na defesa dos empreendimentos econômicos.

“Os governos, mesmo os de esquerda, se comportam como sócios das empresas. No governo do presidente Pepe Mujica, havia orientação clara para que os membros do governo defendessem o projeto”, disse Bacchetta.

Segundo Bacchetta, o projeto Aratirí pretendia instalar uma mina a céu aberto para extração de ferro na região central do Uruguai, formando um lago para despejo de resíduos de grandes proporções. O projeto seria completado pela construção de um porto de águas profundas e de um duto para transporte do minério, afetando diretamente produtores rurais e a população da costeira, além de provocar um enorme impacto com a formação de crateras e a emissão de poluentes. A iniciativa seria parte da alteração do fluxo do mercado financeiros após o chamado estouro das bolhas imobiliárias e hipotecárias nos Estados Unidos, em 2008, e estaria relacionada a uma movimentação conjuntural do mercado internacional de minério, onde houve o preço do minério de ferro teria sido multiplicado por cinco, entre 2008-2012. Nesta conjuntura, o negócio era bom e o alvo era exportar para o mercado asiático.


Estratégia
Diante do projeto, a primeira fase foi uma batalha de informação já que nem a mineradora, nem o governo forneciam informações. Foi preciso lançar mão de recursos judiciais para garantir acesso aos documentos e buscar referências em outros países através da rede de jornalistas ambientais que recuperou o caso de uma mineradora no Peru.

Para enfrentar uma conjuntura desfavorável em que “tínhamos um governo de esquerda que todo dia fala contra nós”, Bacchetta conta que foi formada uma rede que reunia grupos locais de produtores rurais e população costeira se somaram movimentos sociais da capital, profissionais, sindicatos. A articulação ganhou reforço de especialistas voluntários que obtiveram judicialmente os documentos e os projetos, além de monitorar as movimentações do mercado internacional de ferro.

Com uma série de informações na mão, os ativistas optaram por uma estratégia de alertar a população afetada e rebater os argumentos dos investidores e do governo junto à opinião pública. Para isso, usaram redes sociais, mobilização de rua e ocuparam espaços na imprensa. A ideia era ganhar tempo já que havia uma avaliação que os preços internacionais do ferro não sustentariam a exploração do minério de baixa concentração (28 por cento) das jazidas uruguaias. Os órgãos também contribuíram fazendo cumprir requisitos impostos pela legislação ambiental do país e a aposta se confirmou. Com a queda no preço internacional do ferro, o projeto se tornou inviável e foi abandonado antes de ser posto em prática.

“O projeto comoveu o país. Nunca havíamos tido um projeto com aquelas dimensões. No início, não conhecíamos as empresas que estavam envolvidas. Havia muita mentira sobre o investimento. Respondíamos e fomos ganhando credibilidade”, disse Bacchetta.

Para Bacchetta, a experiência é importante por ter demonstrado a importância decisiva da informação no empoderamento da população e a consequente formação de uma “cidadania consciente”, ainda mais diante de experiências anteriores que seguiram o mesmo curso de outros empreendimentos de outros países da região e conseguiram barrar a entrada da soja transgênica nem a instalação de uma papeleira nas margens do rio Uruguai.

“Não fazíamos discurso ideológico, fizemos centenas de palestras para informar para que as pessoas possam formar posição própria. Esse para mim é o papel do jornalismo porque a sociedade está cada vez mais marginalizada das decisões. É preciso fortalecer a sociedade civil para que possa incidir nas decisões”, concluiu Bacchetta.

 

Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental UFGRS CNPq - EcoAgência

  
  
  
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