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Unidades de Conservação

Segunda-feira, 17 de Junho de 2013

 
     

Unidades de conservação se preparam para a temporada de fogo no Cerrado

  

 Monitoramento de focos de incêndio mostra aumento já nos primeiros cinco meses de 2013 em relação ao ano passado.

  

ICMBio    
Ãrea de Proteção Ambiental Cavernas do Peruaçu


Por Maria Luiza Campos - NQM Comunicação

O Cerrado sofre anualmente com as queimadas, especialmente nos meses de inverno que se aproximam, quando a soma de fatores climáticos como falta de chuva, baixa umidade do ar e ventos fortes atingem a região do Planalto Central contribuindo para a propagação das chamas. A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza – que administra a Reserva Natural Serra do Tombador, localizada em Cavalcante (GO), uma das maiores Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) do bioma – realiza constantemente trabalho de prevenção e combate a incêndios com o apoio de uma brigada voluntária comunitária, pioneira na região de Cavalcante.

O treinamento que oficializou a formação da Brigada Voluntária Comunitária da Reserva Natural Serra do Tombador e Vizinhos do Entorno foi realizado no ano passado na própria Reserva, em parceria com a Coordenação Geral de Proteção Ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CGPro/ICMBio). A Reserva Natural Serra do Tombador é a primeira RPPN no Brasil a firmar uma parceria com o CGPro para treinamento de combate a incêndios. O segundo treinamento realizado na Reserva aconteceu nos dias 11 e 12 deste mês junho, tanto para atualização do conteúdo quanto para formar novos brigadistas. Ao todo, participaram 21 pessoas, sendo 15 da comunidade e seis colaboradores da Reserva.

Desde a criação do grupo, três combates a incêndios já foram registrados evitando a perda de biodiversidade do Cerrado provocada pelo impacto do fogo. “Entre aulas teóricas e práticas, formamos mais de 20 pessoas entre colaboradores da Reserva e moradores da região com a intenção de unir a comunidade em prol da conservação da natureza”, explica Daniele Gidsicki, administradora da Reserva Natural Serra do Tombador.

De acordo com o líder comunitário do assentamento Rio Bonito, localizado na região de Cavalcante, Edmar Cardoso da Silva, o treinamento contribuiu para aumentar o conhecimento sobre o manejo do fogo, que era mínimo. “No total, somos 68 famílias e esses ensinamentos são multiplicados dentro da comunidade”, diz Edmar.

Mesmo com todo o esforço desta e de outras brigadas, os focos de incêndio em todo o Cerrado aumentaram nos primeiros cinco meses de 2013, se comparados ao mesmo período do ano passado. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), somente no estado de Goiás já foram registrados pouco mais de 400 focos de incêndio entre janeiro e início de junho deste ano. O bioma, que originalmente cobria 22% do território brasileiro, já perdeu mais de 55% de sua área, e o fogo é uma das ameaças à sua conservação.

Em relação às queimadas controladas, a administradora da Reserva pondera que elas são necessárias em alguns momentos. “Mas, é importante que, em casos assim, o fogo seja utilizado de forma consciente, para que não se alastre pela vizinhança”, afirma Daniele. Os integrantes da brigada aprenderam a combater as chamas e também a fazer o aceiro – retirada de vegetação ao longo de faixas cuja finalidade é impedir a propagação de incêndios.

Proteção da biodiversidade

A brigada voluntária faz parte de um programa de manejo do fogo da Reserva Natural Serra do Tombador, que inclui entre outras atividades capacitações, ações de sensibilização da comunidade, monitoramento e pesquisa. “O nosso objetivo é reduzir o risco de incêndios que possam comprometer a biodiversidade do local, já que a Reserva foi criada justamente para conservar a natureza ali presente, além de garantir a segurança das pessoas e a manutenção da infraestrutura”, reforça Daniele.

A Reserva Natural Serra do Tombador é a maior RPPN do estado de Goiás, com 8,7 mil hectares. Ela está localizada ao norte goiano, a cerca de 90 km do centro de Cavalcante, no sentido para Minaçu. Em linha reta, a Reserva se encontra a 24 km do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, mas engloba formações vegetais, relevo e componentes da fauna e flora diferentes das existentes no Parque. “A RPPN também tem amostras de quase todos os tipos de ambientes característicos do Cerrado, o que intensifica sua importância na conservação do bioma”, complementa.

Para o analista ambiental do Parque Nacional Chapada dos Veadeiros/ICMBio, Fernando Rebello, o fogo pode ser considerado um distúrbio normal do Cerrado quando é causado por raios, o que geralmente ocorre no início ou final da época das chuvas. Os fogos “naturais” ocorrem em áreas pequenas, e são apagados pela própria chuva, não se propagando por grandes extensões em função da maior umidade presente no solo e na matéria orgânica deposta sobre o solo. Este fogo natural é benéfico, pois, após a passagem da queimada, a presença das cinzas e da água das chuvas permite que os nutrientes sejam incorporados ao solo. É época também em que os organismos do solo estão ativos, ajudando no processo de incorporação destes nutrientes ao solo.

Por outro lado, o fogo por origem humana (chamado “fogo botado”) pode ser criminoso ou também resultado da queima de áreas de pastagem e cultivo. Quando é estimulado em épocas de seca (que começa em geral no início de junho e vai até outubro/novembro), há um sério perigo de ele se alastrar para as áreas naturais e de ser devastador. Geralmente, alcança intensidades e temperaturas que destroem o banco de sementes do solo, e se espalha por grandes áreas, sendo difícil seu controle. Assim, o solo se torna cada vez mais pobre, e a diversidade de vida diminui.

“O fogo botado queima a biodiversidade do Cerrado. Ele atinge inclusive plantas e ambientes que não toleram o fogo, e que estão se tornando cada vez mais raros. Infelizmente essa ainda é uma questão cultural que não conseguimos resolver em curto prazo”, argumenta Rebello. É preciso, segundo ele, oferecer alternativas melhores para que os proprietários de terra da região possam se desenvolver sem depender de queimadas. “No curto prazo, trabalhamos na conscientização dessas pessoas e na orientação quanto ao manejo do fogo”, finaliza.

NQM Comunicação/EcoAgência

  
  
  
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