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Observatório de Jornalismo Ambiental

Segunda-feira, 01 de Março de 2021

 
     

A morte de Aruká Juma e o Jornalismo Ambiental posicionado

  

O Jornalismo acerta ao noticiar com uma posição crítica, não neutra e ao expor práticas genocidas porque excedem a perda de vidas humanas pelo coronavírus

  

Reprodução: Gabriel Uchida, Kanindé - Amazônia Real     


Por Matheus Cervo*

É com muita tristeza que o Brasil amanheceu no dia 17 de fevereiro com a notícia da morte de Aruká Juma, o último homem da etnia Juma existente. Após a sua partida devido às complicações da infecção pelo novo coronavírus, suas três filhas chamadas Borehá, Maitá e Mandeí são as últimas sobreviventes dos Juma, ainda que elas tenham tido filhos com indígenas Uru-Eu-Wau-Wau que tiveram contato com a tradição de seu povo. É com essas informações que podemos perceber que a morte de Aruká está longe de ser um fenômeno isolado, já que muitas práticas genocidas foram ocorrendo na governança bolsonarista e nas últimas décadas.

A agência de jornalismo independente Amazônia Real solicitou os boletins médicos sobre o período de internação nos meses de janeiro e fevereiro, recebendo informações de uma profissional da Casa de Atendimento de Saúde Indígena (Casai) de Humaitá (AM), órgão do Ministério da Saúde. Segundo ela, Aruká Juma foi medicado no Hospital Sentinela com azitromicina, ivermectina, nitazoxanida e sulfato de zinco. Esses remédios fazem parte do coquetel de “tratamento precoce” que foi promovido pela necropolítica de Jair Bolsonaro que não é reconhecida para tratamento dos infectados pela covid-19 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Essa notícia que expõe o “tratamento precoce” que Aruká Juma recebeu não hesita em aderir ao que foi dito nas notas de pesares da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e da Articulação dos Povos Indígenas no Brasil (Apib). Nessas notas – que foram expostas inteiras no final da reportagem da Amazônia Real -, as organizações afirmam veemente que a morte de Aruká foi resultado de políticas públicas omissas e incompetentes do governo Bolsonaro que vão além da divulgação intensiva de tratamentos ineficazes e perigosos. 

Por já estarem sujeitos à vulnerabilidade e risco de desaparecimento, o povo Juma era considerado como de recente contato e constava como um dos povos a serem protegidos por Barreiras Sanitárias para evitar o seu contágio durante a pandemia. O pedido da instalação foi feito por essas organizações e foi deferido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em julho de 2020. Contudo, o ministro Luís Roberto Barroso deu o prazo de até setembro para que as barreiras fossem instaladas, mas o governo não cumpriu o seu dever e decidiu instalar, em dezembro, apenas um posto de controle de acesso na BR 230 – Rodovia Transamazônica – sem comprovar sua eficácia.

Além do que foi aqui brevemente mencionado, a reportagem citada na Amazônia Real realizou uma gênese do conflito de terras que o povo Juma enfrenta, de forma mais intensa, desde a década de 1960, guerra que foi, paulatinamente, gerando o desaparecimento desses indígenas. Essa perspectiva histórica foi publicada na íntegra em 2015, mas foi recuperada na matéria que anunciou a morte do último indígena Juma junto com detalhes trazidos pelas notas de pesares. Por isso, o Jornalismo Ambiental feito pela Amazônia Real acerta ao noticiar a dura realidade da morte de Aruká Juma com uma posição crítica e não neutra, expondo práticas genocidas que possuem uma profundidade que excede em muito a sua morte pelo coronavírus. E, para finalizar, é como antropólogo que acredito que o jornal acerta também ao permitir que uma jornalista indígena como Luciene Kaxinawá cubra um tema tão importante ao invés de falar sobre a morte de Aruká pela mediação de algum especialista.

* Este texto foi produzido por integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS) no âmbito do projeto de extensão "Observatório de Jornalismo Ambiental". A republicação é uma parceria com o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS).

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