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Bom dia, 20 de abr
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Sexta-feira, 22 de Junho de 2012
  
Rio+20 proporciona encontro de realidades

Talvez o mais interessante do evento são os encontros, os reconhecimentos – daqueles que não rola o “você sabe com quem está falando”. Trocas energéticas e bate-papos despretensiosos.

  
Por Silvia Franz Marcuzzo
  

Vivi momentos inesquecíveis na Cúpula dos Povos. Não consegui se quer caminhar por toda área. Na tentativa de vivenciar a minha sustentabilidade pessoal, estou elegendo um lugar por dia para transitar. O Aterro do Flamengo oferece um carnaval de possibilidades, com arte – da desprezível à magnífica – , artesanato, muita criatividade, danças circulares, debates, esquetes teatrais, king ONGs, micro ONGs, gente de todos os tipos e até quem simplesmente veio para vender seu “peixe”.

Ontem dia 21, uns alunos da Fiocruz foram para o Aterro do Flamengo para abraçar e beijar as pessoas. Como uma forma de acolher e distribuir algo não escasso: a espontaneidade de simplesmente transmitir atenção, compaixão ao outro, seja ele quem for. No grupo, jovens de 14 a 16 anos, que se quer integravam alguma organização, espalhavam sorrisos e alegria.

Talvez o mais interessante do evento são os encontros, os reconhecimentos – daqueles que não rola o “você sabe com quem está falando”. Trocas energéticas e bate-papos despretensiosos. Ao sair do metrô, pedi uma informação para um senhor sobre qual direção tomar. Acabamos conversando e ele me contou um pouco da sua história. O nome dele é Francisco Peba, ativista do Fórum de Apoio às Comunidades Rurais e Ribeirinhas do Amazonas, que congrega 312 comunidades na região do rio Negro, próxima à Manaus.

Sem saber que eu era jornalista, ele começou o papo indignado. “O Brasil não tem noção de como é a logística na  Amazônia”, de como é o consumo e o preço do diesel por lá, de como é difícil manter e se deslocar pelos caudalosos rios que exigem o uso de embarcações a motor. Peba tem uma trajetória interessante. Nasceu no Amazonas, criou-se no Rio, onde permaneceu por 15 anos. Na juventude “entrou na onda retratista” – ele é quem fazia as fotos e produzia uns pratinhos com imagens preto e branco que muita gente tem de recordação de visita no Pão de Açúcar décadas atrás ( inclusive eu). Hoje mora nos arredores de Manaus e luta pela qualidade de vida dos nativos.

“Levei três anos para conseguir aposentar um cidadão e quatro meses para provar que ele morreu”, esbravejou, contando a história do morador Antonio Fernandes, falecido na comunidade de Bela Vista de Jaraqui  no Rio Negro. Peba acha que as coisas pioraram depois da Rio92. Veio para o evento graças ao apoio da Fundação Amazônia Sustentável.

Para ele, a criação de Unidades de Conservação sem a consulta e a participação das populações tradicionais é um afronta. “Eles dormiram milionários e se acordaram em plena miséria”, comentou o amazonense de 59 anos. Ele se refere a criação do Parque Estadual do Setor Sul do Rio Negro, cujo decreto é de 1996. Com a fiscalização do uso dos recursos naturais mais rigorosa, a comunidade vive com medo, pois tem gente que já foi multada, presa, teve barco apreendido etc.

Peba disse que hoje há crianças que geram renda fazendo espetinhos de madeira para churrasco. Recebem três reais por milheiro! Durante a nossa conversa, foi tirando da mochila bombos de castanha-do-pará e cupuaçu. Com o dinheiro arrecadado pretende comprar uma batedeira para facilitar o trabalho do grupo. Segundo ele, os doces são preparados por jovens dos 15 aos 18 anos. “A cada mil balas vendidas, retira-se um madeireiro da família”, garante.

Enquanto conversávamos, um moço observava. Curioso, Isnaldo Pereira, membro do movimento negro, já quis comprar a mercadoria. O representante do Centro de Estudos da Cultura Negra, de São Mateus, Espírito Santo, desabafou: “os jornais do Rio sempre falam mal do que acontece, não falam o que está rolando de bom aqui na Cúpula”. Diante do nosso encontro: um manaura, um capixaba e uma gaúcha, percebemos o quanto cada um, originário de cada canto do Brasil pode para aprender uns com os outros. Esse foi um dos momentos mágicos proporcionados pela Rio+20.

  
             
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