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Domingo, 29 de Dezembro de 2013
  
As chuvas chegaram; com elas, o medo

Em torno e em função desse cabedal de erros que vem sendo cometidos obviamente se organizaram e se estabeleceram grandes interesses empresariais, econômicos e políticos, dos quais nos parece que a maior parte de nossas autoridades está refém

  
Por Ãlvaro Rodrigues dos Santos
  
Como já o mais simples calendário de papelaria alertava, adentramos no sul-sudeste brasileiro o período chuvoso crítico que anualmente tem marcado a região por terríveis tragédias associadas a enchentes e deslizamentos. Tragédias em que milhares de brasileiros tem perdido suas vidas de forma estúpida e brutal, e a sociedade pago um altíssimo preço com os prejuízos de toda a sorte acumulados. Nesse ano o interior baiano, a cidade do Rio de Janeiro e municípios da Baixada Fluminense, Minas e Espírito Santo, com mortos e milhares de desabrigados, abrem o já comum lúgubre espetáculo.
 
Obviamente cabe a pergunta: estamos hoje melhor preparados para enfrentar esses graves fenômenos que se abatem sobre nossas cidades? Em que pese o maior envolvimento de instituições e órgãos públicos com o problema, poder-se-ia dizer que muito pouco. Prevalece ainda fortemente a visão curta e irresponsável que tem levado as administrações públicas a tratar a questão sob uma ótica corretiva e emergencial, pela qual se busca atenuar as consequências dos conhecidos erros que vem sendo cometidos pelo crescimento urbano ao invés de, corajosamente, focando as causas, enfrenta-los e eliminá-los dentro de uma ótica preventiva. Tal visão distorcida na prática lança toda a carga de responsabilidades sobre nosso já tão sobrecarregado sistema de Defesa Civil, missão humanamente impossível de ser atendida, em que pese o heroísmo dessa brava gente.
 
Em outras palavras, nossas cidades continuam a crescer, sob os olhos e complacência da administração pública em seus diversos níveis, praticando os mesmíssimos erros e incongruências técnicas de planejamento urbano e uso do solo que as conduziram a esse grau de calamidade pública. No caso das enchentes impermeabilizando o solo, promovendo uma excessiva canalização de rios e córregos, expondo por terraplenagem o solo à erosão com decorrente assoreamento dos cursos d’água; no caso dos deslizamentos e solapamentos de margens, ou ocupando encostas e fundos de vale que jamais poderiam ser ocupados dada sua já alta instabilidade natural. Ou, com resultados semelhantes, ocupando com técnicas as mais inadequadas e desastrosas terrenos até potencialmente urbanizáveis, uma vez fossem utilizadas as técnicas adequadas para tanto.
 
Em torno e em função desse cabedal de erros que vem sendo cometidos obviamente se organizaram e se estabeleceram grandes interesses empresariais, econômicos e políticos, dos quais nos parece que a maior parte de nossas autoridades está refém. Ou por incompetência, ou por covardia política, ou por interessada passividade.
 
Permitamo-nos raciocinar, qual o interesse que empresas que lucram anualmente milhões de reais com o desassoreamento das redes de drenagem teriam em um programa que reduza ou elimine a erosão geradora dos sedimentos assoreadores? E qual o interesse das empresas que hoje se enriquecem com os projetos, a construção e a manutenção dos famigerados piscinões teriam em um programa voltado a recuperar a capacidade das cidades em reter um grande volume de águas de chuva? Dentro dessa mesma lógica, que interesse haveria por parte de administradores públicos e empresas beneficiadas em deslocar recursos de serviços e investimentos anteriormente combinados para agora abrigar em habitações seguras e dignas a população pobre que imperativa e urgentemente teria que ser retirada das áreas de alto riso geológico e hidrológico?
 
Enfim, ainda que hajam hoje ótimas e eficazes soluções técnicas para reduzi-las drasticamente, as tragédias irão se repetir, e muito provavelmente, em anos mais chuvosos, aumentar sua letalidade. Nesse contexto, é essencial que a sociedade perceba que os impedimentos para a pronta e plena adoção dessas soluções residem na esfera política, especialmente em seus atributos éticos e de competência. 
  
             
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