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Domingo, 21 de Dezembro de 2008
  
As vítimas da tragédia

As vítimas da exploração predatória dos recursos naturais em Santa Catarina foram também as crianças, que herdarão esse território cada vez mais arrasado, sem opções de uso e tão perigoso quanto um campo minado.

  
Por Germano Woehl Junior
  

Nunca, como agora, foi tão óbvio perceber o quanto Santa Catarina depende da natureza preservada para o seu desenvolvimento. Essa tragédia nada mais foi do que uma das conseqüências de avançarmos o sinal vermelho. A cada dia devastamos mais a Mata Atlântica, ignorando os limites da sustentabilidade.

Em pouco mais de uma década, esta é a segunda chuva intensa que atinge nosso Estado, derretendo montanhas inteiras e assoreando grandes extensões de vales com solos estéreis. O aguaceiro de 1995, na Serra Geral, que atingiu os municípios de Jacinto Machado, Timbé do Sul e Siderópolis, fez menos vítimas porque ocorreu numa região pouco habitada.

As vítimas decorrentes dessa exploração predatória dos recursos naturais e da ocupação inadequada dos morros e encostas com plantação e construção de casas não foram apenas as pessoas soterradas nos desmoronamentos. Mas também nossas crianças e quem ainda vai nascer. Elas herdarão esse território cada vez mais arrasado, sem opções de uso e tão perigoso quanto um campo minado até para passeios nos finais de semana.

Observem nas imagens dessa última tragédia quanta área de agricultura e solo foi perdida para sempre em Ilhota, Gaspar e Luís Alves. É exatamente isso que estamos deixando para as gerações futuras, que certamente não terão a quem recorrer para pedir socorro. Está aí a prova inequívoca de que a ocupação que estamos fazendo não é sustentável.

Registros do passado revelam que esse fenômeno de chuvas intensas é recorrente em nosso Estado, mas tem sido cada vez mais devastador em número de vítimas e prejuízos materiais à medida que avançamos com nossa ação predatória sobre as áreas preservadas, aniquilando com milhares de espécies de plantas e animais e acabando com os recursos hídricos. Só em Santa Catarina conseguimos destruir mais florestas nativas nas últimas décadas do que em toda a Europa em mais de dois mil anos. E, agora, assim como os europeus, estamos pagando um preço muito alto por isso.

A prosperidade de nosso Estado está fortemente ameaçada com essa rotina de catástrofes ambientais devastadoras. Tudo é conseqüência do fato de que cada geração entrega para a seguinte um meio ambiente mais arruinado do que encontrou. Já é hora de nossa geração começar a interromper esse processo cujo final será inevitavelmente o colapso.

Aprendemos muito com as tragédias dos últimos 150 de anos de ocupação cada vez mais intensa das planícies e dos morros recobertos de mata atlântica. Baseando-se nessa experiência acumulada, a sociedade brasileira criou leis ambientais, como o código florestal, justamente para evitar essas tragédias. Contudo, temos desrespeitado essas leis achando que são entraves para o desenvolvimento, quando, na verdade, foram feitas para salvar as nossas vidas e proporcionar as condições para o verdadeiro desenvolvimento sustentável.

Devemos fazer a lição de casa e tratar a natureza com respeito ou ficaremos a cada temporal pedindo socorro para o Brasil inteiro como se não tivéssemos culpa pelo castigo. Somos vítimas de nós mesmos. Podemos reconstruir nossas casas quantas vezes forem necessárias, mas a natureza, da qual nossas vidas dependem, não. A destruição é para sempre.

O autor é físico e ambientalista do Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade, de Jaraguá do Sul - Santa Catarina.
germano@ra-bugio.org.br     www.ra-bugio.org.br

  
             
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